Ao terceiro disco, os Orelha Negra afastaram-se dos loops orelhudos, fáceis, cirurgicamente desenhados para a rádio, para fazer dançar. Sem nunca passarem a fronteira para a música avessa ao circuito comercial, arriscaram e, sem grande surpresa, voltaram a ganhar.
Em 2010 Orelha Negra, dois anos depois Orelha Negra e, finalmente, ano e meio depois de ter sido apresentado no CCB, no passado mês de Setembro Orelha Negra. O terceiro disco dos Orelha Negra assinala o fim de cinco anos de um interregno que na verdade não o foi – porque o disco há muito estava pronto, porque foram editando singles, porque foi o anseio de lançar um disco perfeito que os fez atrasar o seu lançamento, porque o queriam disponível em rodelas de vinil, porque todos conhecem a regra de ouro do universo do hip hop – a procura é pela batida perfeita e essa, sabem-no melhor que ninguém, não se revela às primeiras tentativas.
“M.I.R.I.A.M” na estreia e “Throwback” ao segundo ensaio ajudaram a definir-lhes a imagem que, consciente ou inconscientemente, mantêm discreta. Sam The Kid, Dj Cruzfader, Francisco Rebelo, João Cruz e Fred, sabem que dispensam apresentações, que a música tem qualidade de sobra para que não tenham de cumprir as normas de etiqueta dos comuns mortais, que têm estatuto para gravar o que querem, quando querem e só mostrarem quando todos se sentirem satisfeitos.
Para ser ouvido, alto, uma e outra vez, ao terceiro disco a música ganhou requinte, detalhe e uma capacidade de surpreender a cada volta no prato dos gira-discos, uma e outra vez, ao ritmo de “A Sombra”, “OST” ou da” Última Volta”, quando nos voltam a fazer balançar como poucos. Mais que um dos discos do ano, ao terceiro álbum os Orelha conseguem o seu lugar entre as grande bandas da história cá da terra. As que ocupam os nossos principais palcos, as que asseguram a festa de encerramento de festivais pejados de nomes internacionais, as que nos fazem esperar por mais, indiferentes a calendários, formatos ou demais regras. Essas são para quem não tem talento que permita evitar a etiqueta imposta aos mortais. Eles têm-no e a sobrar. Dúvidas? É virar o disco, baixar a agulha e subir o volume.