Foi bonito ver um coliseu cheio e vibrante, no adeus de Lisboa aos Terno como banda.
Cinco anos e três dias depois, o trio brasileiro voltou a Lisboa. Nada mudou na sua música desde então, mas, ao mesmo tempo, tudo mudou. Enquanto que, nesse passado longíquo pré-pandemia, os Terno vinham mostrar o seu recém-lançado, <atrás/além>, neste presente vieram despedir-se como banda. Como anunciam em “Passado / Futuro”:
Nunca mais o meu passado
Para sempre o meu futuro
Nada certo, nada errado
Tudo claro, tudo escuro
Entre o passado e futuro, tivemos então um presente, um belo presente, apesar de o aniversariante ser o tão cantado Bielzinho, os presentados fomos nós.
A maior parte do público talvez desconhecesse que a banda formada por Tim Bernardes, Guilherme D’Almeida e Gabriel Basile se juntou em 2009, quando eram meros adolescentes imberbes de treze anos. Entre lá e cá, já lançaram quatro LP’s e um EP, mas em Portugal só lhes começámos a dar a devida atenção em 2016, no seguimento de Melhor do que Parece. Tim partilhou em palco como foi ter vindo em 2017, tocar ao Texas Bar, em Leiria, para oito pessoas, e como é inebriante ter passado disso para um coliseu esgotado. Esgotado e ansioso por os ver, acrescento eu, que vi gente sentada em fila (longa), à espera da abertura das portas, e sobretudo muitos jovens sub-30. Não me lembro de ver isto acontecer com mais nenhuma banda brasileira em 30 anos, o que é demonstrativo de como Tim e seus comparsas nos conquistaram categoricamente. Aqui no Altamont não temos quaisquer dúvidas, em 2019 colocámos <atrás/além> como o terceiro melhor disco do ano.
Confesso que, pessoalmente, vivenciei de uma forma mais emotiva o concerto anterior, o disco estava fresco na cabeça (e no coração), a ser ouvido em repeat. Neste, o que me conquistou foi sobretudo a felicidade dos que me rodeavam, que estavam a ver o Terno pela primeira (e última vez), e a saborear cada momento em que Tim relatava agruras e angústias, “servindo a frio as suas letras de apoio emocional, sem julgamentos, prontas a amparar a queda de quem se sente atirado para o mundo sem preparação” (palavras da escriba Ana Catarina Tiago, ver link mais acima). O grande exemplo é “Melhor do que parece”, que, do alto dos seus seis minutos, usa e abusa da repetição, para que interiorizemos que “faz tempo que está tudo certo”, ainda que os telejornais digam exactamento o oposto.
Dançámos com “Bielzinho/Bielzinho”, fantasiámos com as montanhas de “Minas Gerais”, baloiçámos com “Pegando Leve”, comovemo-nos com “O bilhete”. Nas palavras de um enorme brasileiro, numa letra que forjou uma das maiores ligações entre países afastados por um imenso Atlântico, “Foi bonita a festa, pá”. Não se sentiram as léguas a nos separar, nem o tanto mar.
Setlist
Tudo que eu não fiz
Pegando leve
A história mais velha do mundo
Não espero mais
Nó
Nada/Tudo
Depois que a dor passar
O bilhete
Lua cheia
Pra sempre será
Minas Gerais
Eu vou
O cinza
Morto
Profundo/Superficial
Volta e meia
Culpa
Bielzinho/Bielzinho
Volta
Passado/Futuro
E no final
— Encore —
Melhor do que parece
66
Fotografias: Rui Gato
















