Acaba de ser editado em Portugal o documentário sobre o criador dos Morphine.
Cure For Pain: A História de Mark Sandman é a biografia possível de um homem, génio artístico, que morreu cedo demais. Biografia possível, porque era difícil conseguir chegar muito perto e vasculhar mais a vida de um homem reservado, lacónico e que estava num patamar diferente dos restantes comuns mortais.
Através de entrevistas aos familiares mais próximos e a músicos amigos (Mike Watt, Josh Homme, Ben Harper, etc.), o filme dá-nos a conhecer um pouco mais sobre Mark Sandman, que morreu em palco, num concerto em Itália, dois dias depois de ter tocado em Lisboa.
Conheço a música dos Morphine há vários anos, era adolescente quando Sandman morreu, mas nunca me tinha debruçado sobre a história da banda. Nem me tinha apercebido da genialidade de Mark Sandman. Agora que vi este filme, fiquei com vontade de ir comprar todos os discos deles.
Neste documentário, percebemos por que razões Mark Sandman encaixa na categoria génio. Podia ter sido um rocker normal, teve problemas suficientes para fazer músicas de rock ou blues depressivas, para se meter nas drogas até se destruir e morrer, aos 47 anos, com uma overdose, deixando uns 4 ou 5 álbuns medianos. Podia, mas não foi. Chegou a ter um pouco desta vida, sim, tocou guitarra numa banda de blues-rock, mas rapidamente evoluiu para um conceito superior. Ele não estava um passo à frente dos seus pares – estava num patamar diferente, vários degraus acima e ao lado. Tinha um entendimento diferente da Vida e uma noção tremendamente evoluída de Arte – e teve a visão e o arrojo de criar música perfeita com uma combinação quase imprópria de instrumentos – bateria, saxofone barítono e baixo de 2 cordas, tocado com slide.
Primeiro, o conceito. É preciso ser iluminado para chegar a este ponto, tirar cordas ao baixo, mexer na afinação e sacar um som único, perfeito e que nunca ninguém tinha ouvido. Para dialogar com o baixo, pôs um saxofone rouco e grave, como a sua voz, e acrescentou apenas uma bateria, a marcar o passo.
Depois, o resultado. Os Morphine nunca chegaram a vender tantos discos como as editoras quereriam. Mas tiveram críticas das melhores, culto gigantesco e paixão desmedida por parte dos fãs. Para não falar do mito que gerou mais culto ainda depois da morte de Mark Sandman.
Neste documentário, realizado por Rob Bralver e David Ferino, ficamos a perceber por que é que isto tudo funcionou. Porque veio da cabeça e da alma de um génio, que sabia perfeitamente o que estava a criar. Dalí deixou-nos quadros, Gaudí edifícios, Sandman música. Morreu em 1999, em cima de um palco, a fazer a sua arte.
Cure For Pain: A História de Mark Sandman é um filme incrível, sobre um homem incrível. Para quem já gosta dos Morphine mas não conhece bem a história, o filme está cheio de pérolas. Para quem não conhece a música, é um óptimo ponto de partida para ir a correr ouvir os 5 discos dos Morphine.
(Outra pérola – a edição de luxo traz um cd extra, com 10 músicas extra, gravações de Mark Sandman nunca editadas)
Cure for Pain: The Mark Sandman Story (Trailer) from Gatling Pictures on Vimeo.