Não há desculpas para não ouvirmos Preservation, sobretudo porque parece que Nadia Reid canta exclusivamente para quem a ouve com atenção. Ela merece essa gentileza. Sejamos, portanto, gentis.
Por vezes, acontece. E quando assim é, a nossa paixão pela música renova-se e adensa-se. Não podemos dizer que seja um fenómeno raro, mas também não tem a frequência que talvez gostássemos que tivesse. Pensando bem, talvez seja melhor assim. Surge de tempos a tempos, e isso basta. Refiro-me a certos discos, que quando os ouvimos pela primeira vez, parecem ser já velhos conhecidos de conversas e copos noite adentro. Podem até não trazer nada de muito novo, mas instalam-se com a facilidade do cair da noite em dias de inverno. Preservation é assim. É tudo isto. Um ótimo disco sobre o qual se deve escrever pouco e ouvir muito. Assim será.
À sua maneira, Nadia Reid faz lembrar Suzanne Vega. A canção “Richard”, a terceira a perfilar-se no recente álbum da neozelandesa, talvez seja o exemplo mais perfeito do que dizemos. Se aqueles que nos lêem gostaram dos primeiros discos da norte-americana, então talvez vos interesse ouvir Preservation, se bem que apontar o nome da voz que nos alertou para “Luka” seja apenas um pequeno pormenor do que aqui podemos escutar. Vem de mais distante a sua voz artística, e percebe-se que já passou por muitos lugares nem sempre geograficamente identificáveis, porque são mais da alma que do mundo. Em Nadia Reid ecoam muitas histórias de amor, muitas memórias de perdas e de ganhos, de vidas como todas as nossas. Frágeis, delicadas, tantas vezes à beira dos negros abismos do tempo.
Nadia Reid é um talento a florescer e Preservation é o mais recente fruto dessa aptidão que parece ser tão natural nela. Com apenas dois álbuns em carteira (o primeiro é de 2015 e dá pelo nome de Listen To Formation, Look For The Signs), Nadia Reid parece ter chegado mesmo “right on time” para que se possa afirmar como mais do que uma promessa das tantas que vão passando e desaparecendo todos os anos. Parece-nos que não será o caso. Não pode ser fortuita uma mão tão cheia de boas canções: “Preservation”, “Richard”, “Hanson St, Pt.2 (A River)”, “The Way It Goes”, “Right on Time” ou “Ain’t Got You” mostram raízes sólidas e férteis. Não há que recear a erosão do tempo.
O melhor, para que se cumpra o que se afirmou inicialmente, é ouvir Preservation e deixar para mais tarde o que poderemos ainda vir a dizer sobre ele, para além do pouco que já se escreveu aqui. Escolha um daqueles fins de tarde a fundir-se ao frio da noite que sabemos não poder tardar a instalar-se, e aqueça-se com a delicadeza que vem do outro lado do mundo para nos fazer a melhor das companhias. Vai ver que não dará pela passagem do tempo. Vai ver que sairá revigorado da experiência. Vai ver que ganhará o seu dia em pouco mais de meia hora.