Quando mbv surgiu, em 2013, mais de duas décadas após o mítico Loveless, foi como se o tempo tivesse colapsado, parado, como se 91 tivesse sido ontem, como se estas guitarras nunca nos tivessem abandonado.
Ninguém esperava realmente que os My Bloody Valentine voltassem ou, talvez mais certo, ninguém ousava acreditar que voltassem assim: fiéis a si mesmos, mas com a lucidez de quem atravessou o silêncio sem nele se perder. Foi um regresso inesperado, denso, mágico.
Há algo de profundamente comovente em ouvir mbv pela primeira vez, embora cada nova audição permaneça labiríntica — aqui, reencontramos uma língua que julgávamos extinta.
Kevin Shields, mestre da distorção emocional, volta a conjurar as guitarras como quem esculpe o ar: camadas e mais camadas de ruído melódico, etéreas, onde o caos se rende à beleza. É um disco onde cada faixa soa a mil mundos sobrepostos, a uma arqueologia do som onde o passado e o futuro se fundem.
mbv não cedeu a tendências, não procurou agradar a ninguém para além dos fãs de sempre, mas ao mesmo tempo não foi só uma carta de amor à nostalgia nem um exercício de estilo. As composições são hipnóticas, levamo-nos para dentro de um sonho de um certo rock que nos sussurra ao ouvido e nos prende pelo pescoço.
Os My Bloody Valentine não voltaram para reclamar um trono — voltaram porque tinham ainda algo a dizer, algo que só eles sabiam dizer. E disseram-no com guitarras que falam como ondas, num regresso silenciosamente revolucionário que ainda hoje não teve sequência em disco.
mbv é a prova viva de que certas vozes, mesmo caladas durante anos, nunca se extinguem — apenas esperam o momento certo para nos lembrar porque são eternas.