Estejam preparados: Morgan Delt não faz a música psicadélica harmoniosa a que todos estão habituados. O disco homónimo do multi-instrumentista californiano é uma autêntica viagem supersónica, estereofónica, alucinante e colorida no meio daquilo a que Huxley chamou de “Céu e Inferno”.
Saído da mesma editora que o já conhecido Jacco Gardner, Morgan Delt apresenta-nos um psicadelismo diferente do que tem sido feito nos últimos anos, assim como do que foi feito na década áurea do género, os anos 60.
Há sempre alguma coisa a acontecer neste disco. É um disco caótico, no bom sentido. Tudo se mistura. Como se todo o Woodstock estivesse sob o efeito de LSD (vamos partir do pressuposto de que não estava) e de repente todas as alucinações individuais se misturassem numa só e lhe fosse atribuída um som. Como se todos os planetas do Sistema Solar e para lá dele fossem habitados (vamos partir do pressuposto de que não são) por todo o tipo de criaturas e todas essas espécies e culturas se juntassem numa enorme festa espacial, repleta de buracos negros, galáxias e nebulosas.
Se para lá da Terra existem seres vivos inteligentes, ainda não temos a certeza. Mas Morgan Delt parece ter a resposta escondida bem dentro (será?) de si, visto que as influências não vieram com certeza de nenhum terráqueo. Parece que não há instrumento que não seja usado, nota que não seja tocada ou cantada, efeito que não seja utilizado. Não há qualquer escassez sonora neste álbum, só pura e boa abundância extravagante. E, no meio dessa abundância, é complicado apontar os maiores destaques do registo. Todos os instrumentos ganham destaque, na produção feita pelo próprio Morgan Delt. As texturas criadas ao longo de todo o disco são notáveis. Quase-fisicamente vívidas, sentem-se as espadas, as armaduras e as aventuras épicas e marítimas de “Barbarian Kings”. Há selva e mistério do desconhecido em “Tropicana”, a acabar no caminhar até ao gira-discos e no levantar da agulha. Há virtuosismo e constante movimento em grande parte das faixas. Há reverberação e eco capazes de derreter qualquer um.
Depois de ouvido vezes e vezes sem conta, em constante rotação, Morgan Delt soa sempre a novo. É, a cada audição, uma experiência sensorial diferente da anterior. A começar na confusão de “Make My Grey Brain Green”, o disco tem o seu culminar no paraíso que é a canção “Main Title Sequence”. O disco de estreia de Morgan Delt impressiona e eleva qualquer um, logo à primeira escuta. Talvez não seja a chave certa para as Portas da Percepção, mas chega definitivamente a encaixar na fechadura.