A vida dos Pixies tem sido tudo menos linear. Depois de anos de amargo afastamento, a banda reúne-se com pompa e circunstância; passado algum tempo, perdem a carismática baixista Kim Deal para, poucas semanas depois, mostrarem ao mundo a sua primeira música nova desde 1991. Desse regresso, com EP 1 já aqui demos conta. Um conjunto de músicas sem grande história, pelo menos sem traço da mística que construiu esta banda, no final dos anos 80.
Agora, já sem a baixista que substituiu Kim Deal – Kim Shattuck – mais um EP de quatro músicas, resultante das mesmas sessões. E, se é verdade que não é o regresso ao auge, também não deixa de ser um conjunto de canções ligeiramente mais forte do que o famigerado EP anterior (que não era miserável, apenas não era digno do estatuto e do passado dos Pixies).
Começa com “Blue Eyed Hexe”, uma boa malha rock ao nível de “Bagboy”, do EP 1. Engraçado, mas não mudaria a história. Segue-se a que é para mim, a melhor música do conjunto: “Magdalena”. Uma obra que ressoa aos tempos de Doolittle, com a guitarra acústica enquanto base condutora, embora escondida debaixo de vocais etéreos e uns toques de uma preguiçosa guitarra quase surf. Uma música que mostra como, melodicamente, Frank Black continua a ter o que é preciso, e mais tarde ou mais cedo isso nota-se.
A terceira música é “Greens and Blues”, talvez um dos momentos mais puramente pop da discografia dos Pixies. Não é nisso que eles são bons, mas sim no cruzamento entre a doçura da pop e a estranheza das letras e das dinâmicas. Ou seja, uma musiquita engraçada e que ficaria bem em muitas bandas, só não é é Pixies vintage.
O EP2 fecha com “Snakes”, relativamente acelerada mas bastante “quadrada” e pouco imaginativa. Uns Pixies em piloto automático.
Ao EP 1 a Pitchfork havia dado uma estrela em 10 possíveis; a este EP 2 dá duas estrelas, mantendo a resmunguice face a esta nova encarnação da banda.
Parece que na calha para edição nos próximos meses está o EP 3. Cá estaremos para confirmar se, de facto, a evolução entre o primeiro e o segundo tomo desta série acelera. Porque, das nove músicas já conhecidas desta nova vida dos Pixies, só umas duas estariam entre os destaques da primeira existência do conjunto.
Quem, como eu, os viu no Coliseu dos Recreios há uns meses, não pode deixar de conceder que, desinspiração das novas músicas à parte, dão ainda um belo show rock. A conferir na versão portista do Primavera.