O novo álbum de Moby, Always Centered at Night, lançado em junho, é um regresso e uma celebração: há mais de 10 anos que o mago da música eletrónica não embarcava numa digressão e assinala-se um quarto de século sobre o retumbante sucesso de Play. Colecionar, colaborar, celebrar são os três C deste trabalho do músico que é também, por exemplo, ativista vegan e em defesa dos animais.
Richard Melville Hall tem Moby como nome de guerra e, ao 22.º disco de originais, mantém as características que o levaram ao sucesso planetário no universo da música eletrónica, vendendo 12 milhões de exemplares só de Play (o álbum de maior êxito de sempre neste domínio e que incluía temas como “Porcelain”, “Natural Blues” ou “Why Does My Heart Feel So Bad?”), agora a completar 25 anos: originalidade na linguagem sonora que o torna acessível a todos; sofisticação a combinar elementos musicais dançáveis; universalidade na seleção de nomes com quem colaborar.
“Nos últimos 30 anos trabalhei com cantores incríveis como David Bowie, Freddie Mercury, Gregory Porter ou Jill Scott. Este álbum prossegue a minha paixão dirigida a colaborações, mas centra-se no trabalho com outros extraordinários cantores que podem não ser tão conhecidos como, por exemplo, Bowie ou Porter”, admitiu.
E, de facto, não faltam colaborações neste mais recente e equilibrado trabalho em que coleciona vozes; aliás, elas estão disseminadas pelos 13 temas que o compõem e vão de serpentwithfeet (“On Air”) a José James (“Ache For”), passando por Lady Blackbird (“Dark Days”), o falecido Benjamnin Zephaniah (homenageado com “Where Is Your Pride?”), Gaidaa (“Transit”), Danaé Wellington (“Wild Flame”), India Carney (“Precious Mind”), J.P. Bimeni (“Should Sleep”), Raquel Rodriguez (“Feelings Come Undone”), Aynzil Jones (“Medusa”), Brie O’Banion (“We’re Going Wrong”), Akemi Fox (“Fall Back”) e Choklate (“Sweet Moon”).
Nas entrevistas que foi dando a propósito do lançamento do disco, Moby exemplificou algumas das motivações para as escolhas: “Como ativista vegan e homem sensato e compassivo, Benjamin sempre me inspirou. Espero que o tema ‘Where Is Your Pride?’ honre o seu legado e sirva para despertar atenções em relação à sua vida, ao seu trabalho e aos seus princípios”, afirmou, sobre a música que homenageia o músico britânico, escritor e professor de poesia e escrita criativa, falecido em 2023, vítima de um tumor cerebral. “Logo na primeira vez em que ouvi cantar “Lady Blackbird”, há alguns anos, apaixonei-me pela sua voz. Por isso fiz tudo o que me era possível para contar com ela neste disco”, sublinhou, a propósito da cantora de soul e jazz que deixa a sua marca vocal em “Dark Days”.
Desde o início dos anos 90, quando se estreou, que o nova-iorquino, agora com 59 anos, tem desenvolvido intensa atividade em diferentes campos além da música: publicou dois livros de memórias (“Porcelain: A Memoir”, de 2016, e “Then It Fell Apart”, de 2019); escreveu um documentário sobre o seu percurso, com realização de Rob Gordon Bralver (2021); alimenta iniciativas como ativista vegan e em defesa dos direitos dos animais. A recente digressão (tal como as tatuagens nos braços – “animal”, no direito; “rights”, no esquerdo) serve como nova demonstração acerca do seu empenho em causas: os lucros revertem precisamente para associações que defendem os direitos dos animais.
Conclusão: um regresso em boa forma com um álbum eclético e muito bem estruturado.