Nove anos após o último disco de originais, os Mercury Rev reinventaram-se outra vez. Born Horses é mais ‘jazzistico’, Jonathan Donahue fala-nos mais do que canta, e mesmo assim, ou se calhar por causa disso, temos em mãos um grande disco.
Reduzidos formalmente a um duo, os Mercury Rev de 2024 estão inegavelmente diferentes, embora, aqui e ali, haja ainda vislumbres do passado – talvez mais nas letras, onde a liberdade e os pássaros (sim, os pássaros) são temas recorrentes, e menos no corpo musical, radicalmente distante do feito lá trás.
Jonathan Donahue canta pouco e arrisca menos com a voz, entrando mais pelo registo ‘spoken word’, narrador das histórias musicadas. Por incrível que pareça, resulta: a sequência “Patterns” e “A Bird of no Adress” (os pássaros, avisámos), a meio do disco, é o momento mais feliz de Born Horses: pianos, cordas, sensibilidade sem entrarmos no campo da lamechice. Grandes canções.
“There’s Always a Bird in me” (pássaros, quem diria?), a derradeira faixa, é a mais próxima do que se pode chamar de uma convencional canção pop/rock – há bateria, um crescendo, variações.
Os Mercury Rev são uma grande banda que já nos deu grande discos e uma obra-prima (Deserter’s Songs). Em 2024, estão diferentes, mas permanecem únicos: continuamos a jogar em casa no que a canções delicadas para corações sofridos diz respeito.