O ciclo ‘Conta-me Uma Canção’ regressa aos palcos em 2025. Para abrir as hostes, Sérgio Godinho e Márcia partilharam canções e conversas.
Para quem ainda não conhece a história do ciclo “Conta-me Uma Canção”, aqui fica um pequeno resumo. Tudo começou quando a Vachier & Associados, Lda., produtora de espetáculos e de gestão de artistas, criou este conceito: conversas à volta das canções. Estávamos ainda durante a pandemia e, inicialmente, este foi um conteúdo audiovisual disponibilizado no verão de 2022 (LINK). Mais tarde, em 2023, a ideia avançou para os palcos, materializando-se num ciclo de concertos que promove colaborações únicas entre artistas portugueses.
O primeiro concerto “Conta-me Uma Canção” de 2025 aconteceu na quarta-feira, no local do costume, o Teatro Maria Matos, em Lisboa, reunindo em palco Márcia e Sérgio Godinho (acompanhados pelos músicos Filipe Cunha Monteiro, a.k.a. TOMARA, e Nuno Rafael).
À partida, se pensarmos na discografia de Godinho, podemos considerá-lo mais um cantor de canções de protesto do que de canções de amor. E, de facto, se o nosso olhar (ou ouvido) estiver focado no cantautor de intervenção, a dupla Márcia e Sérgio Godinho será, no mínimo, inesperada. Porém, aquilo a que assistimos foi a uma união perfeita entre os dois: ambos cantam sobre amores e desamores; ambos apostam em canções de superação; ambos gostam de artigos definidos nos títulos das canções; ambos deram o nome Carolina às suas filhas e, sobretudo, ambos usam a palavra como essência das suas canções.
Esta simbiose ficou patente na cumplicidade entre os dois, tanto na partilha das canções como nas conversas — por vezes pessoais, outras vezes profissionais — que Márcia e Sérgio Godinho mostraram em palco. E é sempre tão bom assistir à amizade alheia. De facto, fico sempre com a sensação de que entrámos à socapa na sala de estar da casa de um dos artistas e ficámos a assistir a um convívio de amigos. Chamem-lhe voyeurismo, mas eu aprecio.
Foi cerca de uma hora e meia em que ambos os artistas revisitaram os seus repertórios, apresentando interpretações conjuntas e individuais das suas canções mais emblemáticas, alegrando um Maria Matos lotado com fãs de ambos. Contudo, se eu tivesse de escolher o momento da noite, seria a interpretação de “Fotos do Fogo”, canção de Sérgio Godinho, do disco Tinta Permanente (1993). Como diz o meu comparsa de escrita, Rui Romano, “quase que ouvimos o crepitar da lareira e o desfolhar do velho álbum de fotos, enquanto mergulhamos no terror das memórias de guerra”. Durante a canção, Márcia conseguiu conter as lágrimas enquanto mostrava ao mestre Sérgio Godinho o seu álbum de fotos. Se a Márcia aguentou o choro, o público não — eram imensos os que limpavam o rosto no escuro da sala.
Foi uma oportunidade única de ver duas gerações de músicos portugueses juntas em palco, unidas pela força da palavra, num evento apadrinhado pelo melhor ciclo de música em Portugal. Até dá vontade de lhe chamar festival de inverno.
O “Conta-me Uma Canção” continua com mais duas apresentações no Teatro Maria Matos, onde o Altamont estará presente:
- 5 de fevereiro: Amélia Muge e Ana Lua Caiano
• 12 de fevereiro: Manel Cruz e Samuel Úria
Os bilhetes estão disponíveis por 22,50 €, mas apenas restam alguns para o concerto de Amélia Muge e Ana Lua Caiano. O último espetáculo, com Manel Cruz e Samuel Úria, já se encontra esgotado há vários meses.
Alinhamento:
- Dias Úteis
- Amor Conforme
- 2° Andar, Direito
- Camadas
- Delicado
- Esse Mundo Teu
- As Horas Extraordinárias
- Fotos Do Fogo
- Cajuína
- Lado Oposto
- O Baú De Sigmund Freud
Encore:
- Às Vezes O Amor
Fotografias: Hugo Amaral




























