Este vai ser o primeiro dois-em-um aqui no Altamont, já que irei falar-vos não só do álbum acima referido, como também do concerto que a cantora brasileira deu no passado dia 27 no Grande Auditório do CCB, que, naturalmente, serviu para mostrar ao público português o seu trabalho. Esta mostra já era para ter sido feita em Outubro passado, mas vicissitudes logísticos levaram ao adiamento, mas pelos vistos poucos foram os que se importaram com isso, já que o Grande Auditório encheu para a ver. E Mallu mereceu, já que mostrou toda a sua encantadora vulnerabilidade misturada com uma forte segurança em palco. Pensar que está ali no centro das atenções uma jovem de 21 anos, de aparência frágil e pela primeira vez em concerto em Portugal dá-nos logo a impressão de que o potencial de desastre é elevado. Mas não é, não foi, de todo, o caso. O trabalho de casa estava bem feito (mês e meio de preparação segundo a própria), os membros recrutados por cá mesmo (bateria Fred Ferreira (Orelha Negra), guitarra Alexandre Bernardo (Laia), baixo Martim Torres (O Martim) trompete Diogo Duque (The Mingus Project, Zorra)) deram um excelente suporte e afinal de contas, Mallu já vive em Lisboa há um ano, pelo que já ali mora um à-vontade de estar entre nós. O seu mais que tudo Marcelo Camelo fez também uma breve aparição juntando-se à bateria na última música do concerto para uma grande ovação do público. Algumas fotos do mesmo aqui.
Passando mais ao álbum, deste Pitanga quase todos os temas foram tocados, servindo para mostrar que o álbum é consistente e merece ser destacado. O peso que qualquer novo(a) cantor(a) brasileiro(a) carrega nos ombros é árduo, já que a herança de nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Elis Regina, Vinicius, Tom Jobim, João Gilberto (entre muitos muitos outros que agora de repente não me ocorreram) não permite grandes veleidades a quem vem de novo. Mas o que é certo é que há sangue novo a querer mostrar-se e Mallu é facilmente incluída nesse grupo. Quebra também um pouco as regras ao misturar músicas em inglês com português, muitas vezes dentro de uma música, e sai-se bem em ambas. O ritmo dominante é de fazer bater o pézinho e deixar-mo-nos embalar pelas melodias, principalmente com “Sambinha Bom” e “Olha Só, Moreno”, mas também há uns cantinhos escondidos para, qual chocolate quente, nos aquecer o coração em dias de Inverno (“Lonely” e “Cais”). Basicamente a moça é bem mais do que o muito passado na rádio e já cansativo “Velha e Louca” pelo que esse é o nosso conselho – passem a primeira música à frente e deleitem-se com o resto. Serão 30 minutos bem passados com aquele sotaque doce que vem de terras de Vera Cruz. Obrigado Pedro Álvares Cabral por esse sotaque ser em português!