Românticos incuráveis, os Low apresentaram o mais recente Double Negative, sempre envoltos num pano de melancolia que desencorajaria qualquer crente.
O verão de Setembro desbota-se em noites frias, eternas renegadas, por vezes indecisas. No centro de Lisboa ainda é pleno Agosto e, em seu redor, desenham-se mapas de eventos que nos levam à boleia da ideia de que estas noites são nossas e de que jamais nos irão tirar essa liberdade, nem quando sucumbirmos ao inverno ou à gentrificação. Em Xabregas, a música e a cerveja começam a ganhar espaço: as casas mais baratas, o ambiente boémio, a procura de uma alternativa não-assim-tão-longe. Ontem, a todos estes motivos somou-se a visita dos Low ao Lisboa ao Vivo, para nos aconchegar entre o calor humano e a melancolia.
Um quarto de século do trio do Minnesota condensou-se num álbum com a mesma beleza débil, mas com mais distorção. Calma e segura distorção que em concerto trocaram por versões romanceadas da mesma história. De Double Negative apresentaram as mais promovidas “Quorum”, “Fly” e “Dancing and Fire”, e outras como “Tempest”, uma balada angelical com uma pose subtilmente triste, ou “Always Up”, um dueto de vozes tão sofridas como esperançosas, embaladas por guitarras sôfregas e reconfortantes. Outras mais antigas como “Lies” e “The Innocents” romantizaram o concerto ao esquecido estilo dos 90s, embeiçando a variedade de público que filmava e abraçava como outros sofriam e pensavam, ou lamentavam até. Estilo esse embrulhado em temas mais recentes através das vozes cruas e delicadas, às vezes mais outras menos sonhadoras. Como a pop, ou o indie tímido que cantam, mas que sabem que podem conjugar com todo o seu exponencial de negrume.
Uma vénia ao momento de drone amigável com “Do You Know How To Waltz?”, no esplendor da sua confusão de instrumentos, que ordeiramente segue o seu caminho e, eventualmente, nos suga para dentro dela. Nada como a música para nos arrebatar o sentimento de pleno conforto que o amor nos traz.
Fotografia: Inês Silva