Poderá muito bem ter as suas raízes espalhadas por infindáveis territórios artísticos. Quiçá na Commedia Dell’arte, que apesar de ter nascido em Itália, foi em França que se desenvolveu por mais três séculos. Gwenhael Navarro, igualmente conhecido como o enigmático ser Koudlam, nasce na Costa do Marfim em 1979. Volvidas mais de três décadas, as “Eagles Of Africa” pairam agora sobre as cabeças dos afortunados escavadores de quimeras sonoras. Goodbye é um disco sui generis, quer pela sua apresentação formal, estilo National Geographic, bem como pelo seu estilo de composição sinfónica. E se o ouvirmos de costas para a frente, primeiro surge-nos um Bowie, destemido, sob influência. Lá no meio, no meio das composições, sintetizadores, percussões e baixos densos, pressinto quatro vultos: Gavin Friday, John Lydon quase ocluso, não fosse existir uma love song na estória, David Michael Bunting e Jean Michel Jarre.
E assim vão as referências. Passemos à matéria prima, que essa sim é que nos ajuda e sermos mais felizes!
Este disco é uma verdadeira amálgama de surpresas. Tem dotes de peça rara em volume único, aliás como se pode constatar ao tentarmos comprá-lo em formato compacto. Haverá pessoas que poderão ter conhecido Koudlam através de uma instalção video do seu amigo e artista Cyprien Gaillard. “See You All” vem acompanhada de imagens de um encontro bestial entre duas frentes hooligans russas. Mas se nos abstrairmos deste empréstimo voyarista de cariz psicosocilógico, o disco de Navarro é de extrema subtilieza estética. A versatilidade cultural com que o trabalho vai sendo decorado, ao longo da sua existência, é fruto de apreciada genialidade. Não há hesitações, parece. O controlo da obra revela-se perseverante. Goodbye, escrito e tocado apenas por Navarro, segue um caminho muito singular. E quando lhe pedem sobe ao palco, lá está ele, sempre o mesmo lobo solitário. Ele, Koudlam, a apoteose do próprio talento.
Ora, se me perguntarem como é que estas coisas acontecem, como podem eles surgir assim de nenhures, cheios de teorias poderosas e argumentos invencíveis, pois é claro que não tenho resposta. Sou um mero coleccionador de experiências. É o acaso que se encarrega de me mostrar que a procura prenda os curiosos, e que a realidade é sempre mais rica se acreditarmos nas nossas intuições. Este é para guardar.