Um excelente trabalho que sintetiza quase tudo o que o Jovanotti fez na sua carreira, e que nos faz dançar e sentir.
O romano Jovanotti anda na música e nos discos desde o final dos anos 80, mas foi com êxitos globais como “Penso positivo” ou “L’ombelico del mondo”, nos anos 90, que se tornou uma figura fora de Itália. Para muita gente, esse é o Jovanotti que existe ainda hoje. Para muitos, que não o acompanharam mais, ele é o fake rap, o fake world music, o fake EDM, um caldeirão que tanto funciona junto dos betos na Vila Berta como num encontro do Andanças. E Lorenzo Cherubini (o seu nome de baptismo) é também isso, mas não é apenas isso.
Depois de um grave acidente de bicicleta, o italiano foi atirado para uma cama de hospital e para uma longa convalescença. Quase a bater os 60 anos (tem agora 58), era inevitável ver-se confrontado com a mortalidade, a falência de um corpo que, na imagem pública, ficou cristalizado como o de um puto atlético, bem parecido e energético.
Em 2025, sai este Il corpo umano VOL. 1, nascido dessa introspecção e da procura da resposta de quem é, afinal, este Jovanotti, envelhecido renitente, cansado mas resistente, dorido mas que insiste em procurar a união e o amor entre uma humanidade cada vez mais desavinda.
Este é o seu 16º disco de originais e, de certa forma, é um bom compêndio de praticamente todos os territórios que Jovanotti percorreu ao longo das últimas décadas (sem, felizmente, o rap algo pueril dos primeiros tempos). Jovanotti é, acima de tudo, um belíssimo compositor pop, nas suas mais variadas encarnações.
Em Il corpo umano VOL.1, temos grandes canções, como a abertura com a belíssima “Montecristo”, hinos pop como “La mia gente”, a política “Fuorionda” ou a fresca “Innamorati e liberi”. E claro que Jovanotti nos apresenta excelentes exemplos de outra especialidade sua, a balada, com grandes temas como “Um mondo a parte”, “Le foglie di te” – completamente contemporânea na sonoridade – “L’aeroplano” ou a terna “La grande emozione”.
Jovanotti sempre viveu entre o profundo e o superficial, até nas suas letras. E este é mais um disco que um cínico terá muita dificuldade em degustar verdadeiramente. Mas se colocarmos de parte os preconceitos, nos deixarmos levar pela emoção e pelo espírito pop e por vezes naif de Il corpo umano VOL.1 receberemos, em troca, uma hora de canções que nos fazem dançar, que nos levantam, que nos emocionam, que nos tocam.
É pop multifacetada, rica e colorida, servida por uma excelente produção e conduzida por Jovanotti através da língua mais bonita do mundo, o italiano.
Podemos dizer, e será verdade, que está aqui uma boa banda sonora para o Verão. Mas há por este disco alimento para todo o ano, e apostamos que quem a ele se entregar terá aqui companhia para muito tempo.