A noite foi de Jessie Ware, mas Jordan Rakei intrometeu-se, e bem, na festa cool de mais um duplo concerto memorável.
O mês de julho segue a vertigem dos dias e aproxima-se do fim. Já na entrada da reta final do EDP Cool Jazz de 2108, ontem decorreu a quinta grande noite do evento. Uma vez mais, como sempre sucede nos dias especiais dos concertos de artistas de renome, a festa foi dupla e a surpresa aconteceu, sobretudo para aqueles que (e deveriam ser muitos, há que dizê-lo) não conheciam o primeiro músico da noite. Na realidade, e para sermos verdadeiros, o segundo de três, uma vez que quem atuou antes de qualquer outro foi Diogo Duque, trompetista já com algum hábito de ombrear com nomes de maior relevo como Tito Paris, Salvador Sobral, Mallu Magalhães, Júlio Resende, Carlos Bica, entre muitos outros.
Mais uma vez, o palco do Parque Marechal Carmona recebeu um número significativo de visitantes, todos eles com vontade de ver e ouvir aquela que já por mais do que uma vez esteve recentemente para se apresentar entre nós, mas por imprevistos vários tal coisa nunca chegou a acontecer. Um pouco antes, a surpresa! Veio de longe, do outro lado do mundo (nasceu na Nova Zelândia, embora resida em Londres), mas a viagem valeu bem a pena, tanto para o público como para o artista, que seguramente terá ficado bastante satisfeito com a boa receção do sua atuação e do seu trabalho.
Eram exatamente 21:30 quando Jordan Rakei entrou em palco. Foi dizendo do prazer que tinha em estar pela primeira vez em Portugal e desde logo atacou alguns dos temas dos seus dois discos a solo (Cloak, de 2016 e Wallflower, do ano passado). Também conhecido como Dan Kye, o que dele se pode dizer é que tem uma voz bem segura e agradável, misturando soul, jazz, r&b e estilos afins na sua música. Alguns dos temas não seguem exatamente o esquema clássico da canção. Há espaço de “respiração” para os instrumentos, e nele os temas parecem seguir caminhos diferentes dos inicialmente trilhados. Sempre com um groove assente num baixo pujante e em teclas por vezes descaradamente dançantes, Jordan Rakei esteve sempre muito bem, mantendo ao longo dos cerca de cinquenta minutos de concerto um ritmo a meio caminho da balada soul negra e do r&b mais mexido, a exigir pés e ancas em alguma agitação. Espalhados em diversos locais das plateias, alguns grupos de pessoas faziam-se ouvir, gritando pelo nome do artista e também vociferando alguns “I love you” que terão sensibilizado o músico. Para quem aprecia o género, Jordan Rakei é um nome a seguir com alguma atenção. Para quem estava apenas à espera do “prato principal”, o primeiro concerto a sério da noite revelou-se uma ótima “entrada” e todos deverão ter feito “bom proveito” com a ementa servida.
À hora certa, embora já com dois anos de atraso (se não nos falha a memória) Jessie Ware subiu ao palco para delírio dos presentes. Boa parte do público, provavelmente, já a queria ter ouvido no NOS Alive de 2015 e/ou no Mexefest do ano passado, mas em ambas as datas a britânica teve de cancelar as atuações agendadas. Daí o “atraso” referido. Mas ontem, à terceira, foi de vez. Já não era sem tempo.
Estranha, a forma como a banda se arrumou em “cena”. Cinco música dispostos lado a lado, em linha reta, bem ao fundo do palco, e um enorme espaço para Jessie Ware estar à vontade… Ávido de a ver e ouvir, o público ficou rendido logo nos primeiros instantes. Uma sentidíssima balada inicial foi quanto bastou. Depois, Jessie Ware arrancou três ou quatro temas bem dispostos, convites claros às palmas e à dança. Como se sabe, a voz de Jessie Ware é um poderoso instrumento, e ontem o som de palco esteve irrepreensível, coisa que nem sempre acontece. O facto de não haver ponta de vento foi mais um fator positivo.
Visivelmente satisfeita por estar de regresso a Portugal e também pelo espaço que a acolheu (que considerou dos mais bonitos que conheceu em toda a tour, de tão “natural and romantic”), Jessie Ware foi falando com o público no meio dos temas. Durante a sua ausência por terras lusas, gravou dois álbuns e foi mãe.
Um dos seus temas mais emblemáticos (“Alone”) arrancou uma enorme onda de contentamento logo aos primeiros instantes. A bem da verdade, esse bom feeling percorreu a totalidade do concerto e a harmonia foi completa entre ela e quem a foi ouvir. A interpretação de “If You’re Never Gonna Move” foi mais um bom exemplo disso. Flirt total e absoluto! Nem foi necessário esperar por “Say You Love Me”.
A certo ponto do espetáculo, Jessie Ware pediu desculpa pelos concertos cancelados, mostrou-se estupefacta pela voz e pelo que viu do concerto de Jordan Rakei, artista que não conhecia até à data. Afinal, a surpresa foi mais generalizada do que seria de supor. Ou seja, a noite de ontem foi mesmo intensa e bem conseguida. Sobretudo para os muitos fans de Jessie Ware, que viveram aquele momento, aquela hora e meia com enorme alegria. Até porque, como diz a canção, “tomorrow is nothing at all”. Foi, de facto, uma noite muito cool!