O blues mantêm as suas raízes vivas e intactas, e Jake Xerxes é um dos principais “jardineiros” responsáveis por isso.
Jake Xerxes Fussell é um folclorista e guitarrista de blues natural de Georgia que tem vindo a desenvolver o trabalho iniciado pelo seu pai, Fred C. Fussell, curador e investigador do folclore rural, numa recolha dos sussurros que discretamente desfilam por entre as profundezas das montanhas e vales da cultura norte-americana e não só.
A tradição folk é recuperada por Fussell em interpretações que harmonizam o lado mais country blues com camadas mais contemporâneas que não só não deixam cair a essência e a autenticidade das canções como ainda lhe conferem um lado quase etéreo. Out of Sight, terceiro álbum de Fussell, o músico que começara os dois álbuns anteriores com uma voz e uma guitarra apenas, decide complementar o lado acústico nesta nova coletânea com uma banda, com direito a violino, piano, bateria e até mesmo um pedal steel, em arranjos que destilam elegância e sensibilidade e que reflectem bem o percurso de Fussell entre os cenários folk, blues e mesmo o rock, mas que nem por isso deixam de respeitar as linhas originais de cada canção.
Começa logo com o primeiro single (lançado em Abril deste ano) “The River St. Johns”, uma belíssima leitura da memória de um pregão de um vendedor de peixe que fora musicado por Harden Stuckey nos anos 30. “Michael was Hearty” é um conto agridoce adaptado com enorme mestria da versão cantada pelo cantautor irlandês Thomas McCarthy (que Fussell descobrira num video do YouTube) e que foi transformada numa espécie de valsa irlandesa (“High was the step in the jig that he sprung/He had good looks and soothering tonghe/He wanted a girl with a fortune”), assim como em “16-20”, a penúltima faixa, toda ela instrumental, que nos devolve a um registo de puro deleite.
Out of Sight é, do princípio ao fim, um tesouro arqueológico divino de enorme estética musical que nos faz querer embarcar nestes 41 minutos de prosa delicada e melódica, em que nos deixamos facilmente envolver e embalar na profundidade emocional de cada um de nós.