Canção do dia

“I Am The Walrus” – The Beatles

Nasce no psicadelismo, que nos Beatles sempre teve aquele ar infantil mas depois é mas é
psilocibina, a música cheia de camadas, possível apenas em estúdio, as palavras eloquentes e
percursoras de Monty Python – e com rimas muito bem esgalhadas. Aliás a serem as palavras, absurdas mas letradas, com notável ritmo, que desde logo me fascinaram e reforçaram a ideia de ser o John o meu Beatle preferido – isto numa altura em que eu próprio descobria Ionescu e Beckett e me assegurava do absurdo que era o dia-a-dia, e que hoje, enterrado no pântano da vida adulta até ao pescoço, posso confirmar. Se foi a irreverência desta música, e sua relativa simplicidade, que me levou a ouvi-la vezes sem conta, rapidamente colocando-a na minha preferida (tipo, ya), terá sido a versão dos Oasis (ao vivo em Glasgow) que me intumesceu as sinapses – abandonados os coros e os violinos e outras mariquices dos artolas de Abbey Road, e metendo-lhe distorção, eis que este mamífero marinho habitante do Polo Norte se torna quase punk, o que também é estranho vindo dos Oasis, e finalmente nos sobe o sangue à cabeça, podendo apreciar a coisa não como quem finge apreciar um vinho complexo, bochechando-o com as amígdalas, mas como quem já emborcou uma litradas e se encontra pronto para o moche.

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