Humanos – Humanos (2004)

Sem contar com os recorrentes Xutos & Pontapés é difícil encontrar uma banda, pós anos 80, que faça Portugal vibrar e apaixonar-se.

No final dos anos 90 apareceram os Silence 4 que tomaram de assalto o país de lés a lés, fazendo-nos crêr que não vivíamos só entre Delfins, Pedro Abrunhosa ou Paulo Gonzo. A banda de David Fonseca trouxe um brilho novo à música portuguesa (embora cantada em inglês) que já não se sentia há tempos idos. No entanto, como acontece muitas vezes neste país da costa oeste da Europa, a banda foi engolida pelo próprio sucesso. Após um segundo disco mais fraco, lançado devido a ganância das editoras, a banda cedo se tornou maçadora e acabaria mesmo por se dissolver, levando um David Fonseca a solo a tentar demonstrar que é um dos melhores músicos nacionais, porém as pessoas continuam a preferir um Sardet ou Luís Represas.

No entanto, nada fazia prever o que acabaria por acontecer em 2004 com o projecto Humanos. Regravar músicas abandonadas e/ou inacabadas de António Variações parecia destinado à chacota. Primeiro, porque a imagem de um dos melhores artistas pop nacionais estava, incrivelmente, ligada à música popular, dita quase pimba, segundo, porque o projecto era abraçado por vozes tão díspares como Manuela Azevedo dos Clã, David Fonseca e o fadista Camané, tendo uma banda de apoio composta por elementos dos Clã e da banda de Sérgio Godinho. Pois bem, o resultado final foi o que se viu, 12 faixas de grande qualidade e que puseram o país a cantarolar músicas como “Maria Albertina”, “Muda de Vida, “Quero é Viver”, “Rugas” ou “Não me Consumas”. A pop dos anos 80 aliada ao rock do novo século misturado com os temas e instrumentos tradicionais que Variações tanto gostava de utilizar. Humanos faz, finalmente, justiça a esse excêntrico, tantas vezes mal tratado em Portugal. Um dos melhores projectos musicais portugueses claramente superior a este “Amália Hoje”.