Poucos escrevem como Sam The Kid, que leva a música muito a peito. Um dos pontos altos da sua carreira é Pratica(mente), o seu quarto disco de originais (e o primeiro a ser gravado fora do seu quarto). Lançado em 2006, já se considerou um clássico do género em Portugal – e o “murro do estômago” que encerra o disco demonstra-o.
Abrindo-nos a porta do seu quarto em Chelas, mais conhecido por “Quarto Mágico”, pois fora onde passara grande parte da carreira, Sam infundiu samples da gravação de uma discussão violenta do avô, claramente exaltado, com melodias épicas de instrumentos de sopro. “Quem é que paga a luz, quem é que paga as merdas… eu vou-me embora daqui para fora!!!”, ouve-se o avô a dizer, entre frases berradas, tortas e poucos claras.
Como um verdadeiro estafeta, Sam deambula sobre “a razão da sua origem” e o peso do sangue. “Tal pai, tal filho, tal pai, tal falha”. Passamos de geração em geração, de educação em educação, um bocado de nós, que vai acabar por se evaporar. “Amar e amar, há ir e nunca mais voltar / Ao lar, doce lar, até que a morte ou uma traição separa”.
No fim, é a “Biografia” de Miguel Torga que dá tom à canção: É por dentro que eu gosto que aconteça a minha vida / íntima, profunda / Mas os versos depois fruto do sonho e dessa mesma vida / É quase a queima-roupa que os atiro contra a serenidade de quem passa / Canta! Canto como sou”.