Godspeed You! Black Emperor regressam, menos pessimistas do que se esperava desta banda em 2017 mas sem a convicção a que nos têm habituado ao longo de duas décadas.
Um novo disco dos Godspeed You! Black Emperor é sempre uma ocasião especial. Depois do injustamente ignorado Asunder, Sweet and Other Distress, o coletivo canadiano volta às suas origens com um álbum composto por movimentos, algo que não acontecia desde Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven, de 2000. Luciferian Towers vê uns Godspeed mais contemplativos, menos pessimistas apesar do clima político atual o que não deixa de ser estranho. Estará a banda que sempre criticou o pesadelo capitalista em que vivemos finalmente a cruzar os braços e a abandonar a causa?
“Undoing a Luciferian Towers” faz a ponte entre o álbum atual e os dois trabalhos anteriores da banda. Um crescendo orquestral, fazendo uso das já familiares escalas orientais indica-nos o ponto da situação: Um mundo caótico, a humanidade irremediavelmente condenada. A majestade do trompete (uma rara aparição do instrumento no repertório do grupo) é substituída por um solo demoníaco que, de tão atípico, tem um efeito devastador. É de notar que no final da composição surge um riff que cita indiretamente “Peasantry or ‘Light! Inside of Light!'” do álbum anterior.
Depois deste caos portentoso, começa “Bosses Hang”. Narrativamente falando, esta composição parece preconizar um paraíso pós-apocalíptico e pós-capitalista em que, suspensos nas árvores como Judas, os grandes líderes económicos conhecem o seu fim. Musicalmente, a canção utiliza o formato da sonata, estando dividida em três movimentos: exposição, desenvolvimento e recapitulação, tal como Miles Davis fez em In a Silent Way. O riff principal que começa e fecha a canção é dos mais diretos e esperançosos que o coletivo já gravou, a escala maior abrindo-nos as portas para um novo mundo. O clímax é especialmente satisfatório depois de um dos maiores crescendos que a banda já gravou. Sem dúvida, a melhor composição do disco.
Um álbum de Godspeed não está completo sem um pouco de drone. O violoncelo toca um insistente riff no ritmo ? e os violinos iniciam os ornatos atmosféricos. “Fam/Famine” reforça a ideia de paraíso começado na faixa anterior, mas infelizmente, com 6:44 minutos de duração, é das canções mais curtas do grupo. O seu efeito é cortado abruptamente e o ouvinte é deixado insatisfeito.
O disco é fechado com “Anthem For No State” que parece diretamente extraída do primeiro disco F# A# Infinity com um dedilhado desolado na guitarra e linhas de violino melodramáticas. Todos estes elementos constroem uma paisagem melancólica e sem esperança e culmina num buraco negro de som e feedback naquela que é a composição mais negra do disco.
Luciferian Towers vê os Godspeed a buscarem referências aos mais diversos pontos da sua carreira mas sem o ímpeto que tornou os discos anteriores tão memoráveis. É um bom disco de pós-rock como não podia deixar de ser, mas é apenas um disco bom de Godspeed You! Black Emperor.