O duo Sam France e Jonathan Rado está de regresso, desta vez mais disciplinados e focados, para nos apresentar um bom disco de homenagem ao soft rock e glam dos anos 70.
Surgidos para a ribalta em 2013 com a exposição mediática de “San Francisco”, e aproveitando a cavalgada da onda revivalista psicadélica, os Foxygen não eram novatos nestas andanças. A sua história de vida como banda começou quase uma década antes, em 2006, ainda bastante jovens, na casa dos 15 anos, “uns pré-púberes”, segundo afirmou Rado certa vez. A verdade é que esta loucura exacerbada, e por vezes falsa, demonstrada pelo duo, começa exactamente aí, quando Rado e France, após a visualização do documentário Dig!, e assomados de paixão pelo grupo The Brian Jonestown Massacre e pelo o seu líder Anton Newcombe, que garantia ter tocado 75 instrumentos diferentes nos seus discos, começam a querer aprender a tocar tantos instrumentos quanto possível fosse e a fazer a sua própria música. Um dos resultados, de seu nome Jurrassic Exxplosion Philippic, é fruto dessa mesma loucura.
Quando foi altura de seguir para a faculdade, o duo separa-se, indo cada um para seu lado. France para a Costa Oeste e Rado para a Nova Iorque. Ambos continuaram a tocar, agora em bandas diferentes, no entanto não há amor como o primeiro e Sam France decide visitar Rado a Nova Iorque e em 2012 resolvem lançar Take The Kids Off Broadway. Um EP que sabe a disco completo. Sete músicas a perfazer 23 minutos de som bastaram para que a crítica musical visse ali mais do que um desvario de um duo de amigos. Havia ali substância. Claro que no meio daquela quantidade de influências e quase plágios de Rolling Stones via Mick Jagger, Bowie do início dos anos 70, Lou reed e até David Byrne, havia uma loucura salutar que bem direcionada poderia dar um resultado final melhor que a soma das suas partes.
We Are the 21st Century Embassadors of Peace, lançado no ano seguinte, abriu as portas ao duo. O revivalismo psicadélico ajudou a que os Foxygen tivessem mais exposição, sobretudo através da açucarada “San Francisco”. O disco, apesar de fugir aqui e ali para outros desvarios, era mais focado e revelou o grupo um tudo nada mais maduro do que no EP anterior. Obviamente que as tais influências e quase plágios continuavam e, por vezes, aqui e ali, parecia que eles não se levavam tão a sério assim. Parecia que queriam ser uma caricatura de uma banda revivalista e não um conjunto determinado em assumir a sua autenticidade.
Esta dúvida em relação à natureza do conjunto ainda se agravou mais com o lançamento da sequela ...And Star Power. Um disco interminável, de difícil digestão e compreensão, em que parecia que os Foxygen estavam a querer parodiar as bandas dos anos 70. Não ajudou a que nos seus concertos, de uma teatralidade quase circense, deixassem as pessoas mais confusas com a natureza do duo. Parecia que tudo era uma brincadeira e ninguém se levava a sério. Juntando a isso, há ainda os episódios em que o grupo cancelou concertos e ameaçava acabar a cada mês que passava. Não parecia haver futuro para os Foxygen pós-2014.
A surpresa, para muitos, surge agora em 2017 com o lançamento de Hang. Não só o conjunto não se separou, como conseguiu equilibrar-se, focando-se num trabalho mais certinho, mesmo nunca perdendo o seu lado mais “gozão”, pois parece que essa será sempre a imagem de marca dos Foxygen.
Hang é um trabalho todo inspirado no soft rock e algum glam dos anos 70, que não destoaria nada ao lado dos melhores discos de Elton John ou Fleetwood Mac, versão Stevie Nicks. Para este resultado final, onde uma orquestra de mais de 40 pessoas passeia por todas as músicas do disco, muito terá pesado a mão do produtor Trey Pollard, acérrimo defensor do som total, onde tudo é pensado para se criar uma parede de som, vide os seus trabalhos com Matthew E. White e Natalie Prass. No disco também houve participação dos Lemon Twigs e Steven Drozd, dos Flaming Lips.
“Follow The Leader”, a faixa que abre o disco, mostra esse novo som que os Foxygen nos querem entregar e com o qual conseguimos nos integrar sem que estejamos a pensar que ouvimos é mais teatro do que sentimento. Em “Avalon”, Sam France vai do Dixieland aos Abba sem nunca perder o pé nem a vergonha, enquanto em “On Lankershim”, a faixa mais “normal” do álbum, é Elton John e Fleetwood que nos chegam ao ouvido, como se misturados numa trituradora. Mas ainda haveria espaço para homenagem (será plágio?) a Scott Walker em “On a Hill”.
O ponto mais alto de Hang chega-nos em “America”, onde os Foxygen nos dão um épico musical que segue por tantos caminhos que só mesmo este duo poderia atravessar.
Em apenas 32 minutos, divididos por oito músicas, a banda consegue, finalmente, rentabilizar o tempo, entregando-nos uma colecção de boas canções que prometem dividir cada vez menos os ouvintes que não suportam os seus excessos e loucuras e querem apenas ouvir um bom disco de início ao fim.