Quem diria que um dos discos mais quentes do ano seria lançado já quando o verão dava os seus últimos suspiros? Para os Fogo Fogo não há outra velocidade que não a máxima, outro ritmo que não o escaldante, e se já desde os dias em que animavam o bar e sala de concertos “Casa Independente”, em Lisboa, sabiamos isso, Nha Rikeza volta a confirmá-lo.
O sucessor de Fladu Fla (2021) chegou em setembro de 2024 com o peso de manter a fasquia elevada: o primeiro álbum deste grupo composto por David Pessoa (voz, guitarra, ferrinho), João Gomes (teclas), Danilo Lopes (guitarra, cavaquinho, mandolim, vozes), Francisco Rebelo (baixo) e Edu Mundo(bateria, percussão) encheu as medidas do público português de tal maneira que a trupe passou grande parte dos últimos três anos sempre a tocar. Como se não bastasse, há sempre o fantasma do “segundo disco”. Nada disso fez frente, porém, à pujança deste “neo” funaná que não deixa sossegado até o pé mais gelado, fazendo justiça ao género Cabo Verdiano que felizmente tem vindo a merecer um maior destaque e valorização. Mas há ali um “neo”. Porquê?
Quem conta um conto acrescenta um ponto, já diz a sabedoria popular, e os Fogo Fogo fazem-no bem. À energia electrizante destas melodias que juntam os icónicos feru (espécie de ferrinho típico desta nação africana) e gaita, por exemplo, com letras em crioulo que narram o quotidiano; esta banda junta laivos de psicadelismo, por exemplo (“Um Casa Pa Morá”), morna (“A Ilha”) ou até uma espécie de reggae (“Tudo Sa Ta Kaba”). Esta versatilidade é uma das principais riquezas não só do álbum mas também do próprio trabalho destes Fogo Fogo, que conseguem pegar num estilo simples, com traços estéticos super vincados, e dar-lhe nuances, tornando-o seu. Chapeau para isso e para todo o suor que este disco certamente já fez e ainda fará escorrer por pistas de dança deste mundo fora.