A 10ª edição do Festival Para Gente Sentada, este ano realizado no mês de março, deu início à temporada estival dos festivais de música, caracterizado pelo ambiente intimista, espaço ideal para o fruir, o sentir a música, preenchendo os espíritos dos presentes que puderam assistir a quatro bons concertos de cantautores juntando a fadista, considerada uma das revelações do ano 2013, Gisela João. Comodamente sentados apreciaram a forte envolvência da musicalidade oferecida, conjugadas com excelente jogos de luzes sombrios, rasgados em alguns momentos por feixes de cor vivas e fortes a dar intensidade e mais pulsar aos registos musicais.
São 17 horas e mais de meia sala cheia e bem sentada para assistir ao Gente Sentada cabendo as honras de abertura aos nossos You Can´t Win, Charlie Brown, apresentando-se com um provocatório, ou talvez não, “Boa noite” despoletando na plateia as primeira reações. Foi de facto uma excelente entrada, atenções centradas no coro de vozes de “After December“, tema de apresentação de Diffraction/Refraction e mais à frente interpretaram “Be My World“, revisitando temas do anterior álbum, com maior reacção do público para “Over the Sun/Under the Water” e “I’ve Been Lost”. Uma actuação marcadamente descontraída, num registo coeso, harmonioso e com grande companheirismo contagiante, se assim podemos afirmar, despedindo-se com “é fixe fazer concertos à tarde”, que corroboramos, pois a matiné estava a iniciar-se em bom nível.
Seguidamente, subiram ao palco os The Veils, aparentemente para desassossegar os espíritos da plateia ainda absorvidos pelos antecedentes acordes e vozes melódicos e harmoniosos, injectando ondas sonoras de guitarras rasgadas ao som do Folk e Rock Indie oferecendo, claro está, temas mais sombrios.
Descritos como embaixadores do pop amigável ao ouvido, interpretaram seis temas do último trabalho Time Stays, We Go, com destaque para “The Pearl, Train With no Name” e “Out Form The Valley & Into The Stars”, “sacando” palmas e vozes em coro do público manifestamente rendido à garra, pujança e entrega da banda, entusiasmado com os acordes das guitarras alternando camadas suaves e deslizantes por umas, outras ásperas, enraivecidas e revoltas, estilhaçando o quadro de delicadeza e fragilidade traçado pela voz de Finn Andrews. O grupo londrino interpretou ainda o tema “Bit On Side”, nova canção de 2014, e temas do Álbum Nux Vomica, como a fervilhante “Calliope” ou a sombria “Nux Vomica”, tema homónimo desse trabalho editado em 2006.
Mais tarde, ao início da noite (pelas 21 horas) o intimismo ganha corpo com Luís “Walter Benjamin” Nunes, acompanhado por Nuno Lucas e João Correia, através das sonoridades variadas e complexas, mas condensadas de forma “simples”, harmoniosa, resultando num registo musical muito próprio, fazendo da junção de diferenças, um universo intimista sólido e rico. Interpretou seis do seu primeiro e único álbum The Secret Life of Rosemary and Me, com destaque para “Mary” e “Airports and Broken Hearts”, para além do tema inédito “Paris”.
Por fim, outras histórias se cantaram, pela voz grave e poderosa de Gisela João, de apresentação formal, desta vez não se apresentou “rasteirinha”, interpretando temas do último disco, contagiando a plateia que se rendeu à natural forma de estar em palco. A multifacetada fadista, que já partilhou o palco com Nicolas Jaar em registos pop e os Linda Martini noutro mais pesado, encheu a sala do Europarque, confirmando-a, de facto, numa referência do panorama musical português.
Terminado o 10º Festival Para Gente Sentada, levamos na nossa memória imagens e sons belos, melancólicos, originais, uma perspetiva diferente de percepcionar Música. Para sentar, ver, ouvir e sentir!
Texto: Telmo Figueiredo | Fotos: Maria João Vilaça Pires