O Coliseu dos Recreios recebeu, mais uma vez, os dEUS para apresentação do seu mais recente álbum How to Replace It, mas na verdade todos vão recordar o dia 2 de abril, não como “a noite em que os dEUS vieram apresentar o seu 8º disco”, mas como “a noite em que o palco do Coliseu quase colapsou com a energia de uma bonita invasão”.
Os dEUS são uma daquelas muitas bandas que encontram no nosso país uma legião de fãs que as tornam “bandas de culto em Portugal”. Já actuaram por terras nacionais mais vezes do que consigo contabilizar, já os vi umas quatro (talvez cinco) vezes. A banda belga desta vez veio a Lisboa apresentar o seu álbum lançado em Fevereiro deste ano, How to Replace It, o primeiro disco em quase uma década.
O público que na sua maioria era “late generation x” e “early millennials”, não enchia a sala que já várias vezes recebeu a banda. A época dourada dos dEUS foi há quase 20 anos e os rockers alternativos também envelhecem, pelo menos por fora, e um concerto ao domingo à noite implica uma segunda-feira de trabalho complicada, mas esqueçamos as lamentações. O concerto iniciou com o single que dá nome ao novo disco, e assim continuou com outro dos singles do mesmo álbum “Must Have Been New”. Seguiram-se algumas canções mais antigas, mas ainda mantendo os dEUS no século XXI.
Tom Barman, o emblemático vocalista da banda, foi falador durante todo o espetáculo, e em português, facto que agrada sempre ao publico nacional. O cantor confidenciou que a sua professora de português se encontrava na sala e por isso estava nervoso, acredito que ficou orgulhosa das capacidades do belga na língua portuguesa.
O Coliseu começou a render-se quando a banda interpretou o velhinho single “W.C.S (First Draft)”, do álbum com o mesmo nome, de 1994, Worst Case Scenario. Voltaram depois novamente ao disco deste ano, e a verdade é que a interpretação da canção com quase 30 anos deixou o público mais entusiasmado para estes novos temas.
Barman continuou a sua caminhada pela língua de Camões, e entregou-nos um dos momentos da noite com a introdução “tenho muitos amigos no Coliseu”, como quem nos presenteia com alguma coisa e seguiu-se então ”Instant Street”. A canção foi recebida com felicidade: telemóveis ao alto, saltos e “oh oh oh ohs”. Os hits caem sempre bem e ”Instant Street” é uma das mais emblemáticas canções dos dEUS. “Fell Off the Floor, Man”, outro dos singles mais felizes da banda, manteve os ânimos ao rubro. No caminho até ao encore deixámos os anos 90 e voltamos ao disco novo e aos álbuns pós anos 2000.
O encore avizinhava-se calmo, com uma escolha de canções a puxar menos para o rock e mais para o sentimento. A primeira foi “Roses” do disco In a Bar, Under the Sea, seguida pela nova “Love Breaks Down” e, por último, “Bad Timing”. Já depois das despedidas, nas quais Barman agradeceu a presença dos fãs e mais uma vez assinalou que o palco se encontrava demasiado longe do público (mas perto dos corações), soaram os primeiros, e bem conhecidos, acordes de “Suds & Soda” e logo foi pedida pelo “frontman” da banda uma invasão de palco. Esta invasão começou por ser tímida, provavelmente os fãs da banda estavam incrédulos com o solicitado (ou a pensar naquela reunião das 9h), mas pouco a pouco o palco encheu, até chegar a uma absoluta loucura onde os seguranças nem ousaram expulsar alguém. E assim continuou a canção, os músicos rapidamente foram engolidos no meio da
multidão que aproveitava para filmar e tirar selfies com a banda.
Num momento de exaltação chegámos ao fim de um concerto que apesar de competente (os dEUS são uma banda com muitos anos a tocar o mesmo o rock alternativo irrepreensível e intemporal) tinha exibido poucas emoções fortes, afinal a emoção chegaria toda na última canção. De certeza que quem pisou o palco não imaginaria alguma vez fazê-lo com a banda belga mais famosa em Portugal.
Fotografias: Hugo Amaral
Um concerto do dIABO com um encore éPICO!