Os The Charlatans são um caso atípico na Britpop. Surgiram antes de o fenómeno rebentar – formaram-se em 1989 – e permanecem ativos e com bons discos editados nos anos recentes. Nunca explodiram verdadeiramente fora do Reino Unido, mas ainda são banda para andar em digressão fora de terras de Sua Majestade durante largos meses, apenas não atuando em estádios e focando os seus espetáculos em anfiteatros e outras salas. Em Portugal, por exemplo, tocaram em 2008 na Aula Magna de Lisboa, enquanto uns Pulp e Blur fecham festivais e os Suede atuam nos coliseus da capital e da invicta.
Some Friendly, de 1990, foi o disco de estreia do grupo liderado por Tim Burguess. É um disco distante da soalheira pop de temas mais para a frente na carreira do grupo, mas não por isso é menos fundamental na carreira destes bons charlatães. Experimental, intenso e saudavelmente caótico, é um disco para emprateleirar ao lado da estreia dos Stone Roses e de Screamadelica, dos Primal Scream, por exemplo.
Lento quando tem de ser («Oportunity», colossal tema) e épico sem pedir licença a ninguém («Sprongston Green» é perfeito remate da jornada), Some Friendly é um disco de culto: não é consensual, não é imediato, não é fácil, mas quem nele entra com pujança dificilmente não dará por si pontualmente a querer voltar para ele. «Polar Bear» é talvez a faixa emblemática: cruza dub e elementos eletrónicos com guitarras e a voz de Tim Burguess, meio escondida e abafada, mas inconfundível e jeitosa: bem jeitosa. É o passado e o que viria a ser o futuro de uma banda ainda viva no presente. Longe de grandes palcos, embora ainda fortes. Bom.