Com o lançamento de A Família, o quarto álbum do grupo formado em 2016, em Lisboa, os Cassete Pirata souberam construir um disco baseado nas fortalezas e sucessos anteriores, o que os cimenta como uma das bandas mais interessantes de um som alternativo levado ao colo por guitarras.
Não se pode, claro, esquecer de fazer um paralelismo aos Capitão Fausto, que conseguiram alcançar o que os Cassete Pirata logram com este novo lançamento. Afinal de contas o género é semelhante, e é uma comparação que deve ser motivo de orgulho para a banda.
Ao longo de dez canções e apenas 38 minutos, A Família é uma sucessão de potenciais êxitos, e não é de espantar que o grupo esteja a esgotar os concertos por onde quer que passem.
A primeira faixa do disco, “Portas do Céu”, destaca-se pela sua onda Dead Combo cheia de fuzz e é seguida de “Promessas”, certamente um futuro single que transporta a guitarra da música anterior a um mundo um bocado mais psicadélico. A terceira canção, “A Rotina”, tem toques de letras à Tomás Wallenstein, que pode ser uma crítica mas também um elogio. É os dois.
Aqui a meio do disco aparece “Primavera”, um tema que contrasta pela calma mas mostra a força das letras dos Cassete Pirata, que têm o dom de nos ficar na cabeça muito depois da música terminar.
“Tanta Vida Pra Viver”, um dos temas escolhidos como single, é curiosamente uma das que me chama menos. Um toque a Diabo na Cruz, com algo na sua melodia que puxa ao folclore, seguido por “Véu Dourado”, última música calma antes do regresso do fuzz. “Nem quero Saber” é uma mudança de tom nas letras, com uns Cassete Pirata mais chateados mas ainda não preparados para uma crítica aberta. Ao fim ao cabo não são banda de assumir grandes riscos nos temas das suas letras.
Aqui surge mais um single, “Ninguém Fica a Perder”, um clássico e inevocável tema de Cassete Pirata, mais fofo e amoroso, que as irritações ficaram lá atrás. Antes da canção final temos “Fruta Madura”, faixa apoiada mais em camadas de pads e sintetizadores, e para terminar “Tens o Meu Coração”, mais um dos singles deste A Família, e mais uma música fofinha dos Cassete Pirata.
O disco no geral presta-se a audições repetidas e não assume riscos, nem líricos nem sonoros – a não ser na tal crítica velada – mas o que faz, e bem, é ser agradável, e esgotar concertos, o que nos faz crer que os Cassete Pirata estão prontos para assumir, com pleno direito, o palco principal do indie português.