Casper é dinamarquês e lidera os sóbrios e elegantes Efterklang e os mais dançantes e expansivos Liima. Estes últimos acabam de editar 1982, segundo longa-duração de originais, pretexto para nos sentarmos numa esplanada numa soalheira tarde com um músico que, sem arrependimentos e com muito orgulho, trocou o frio escandinavo pelo calor de Lisboa.
1982 foi gravado em quatro cidades europeias, em residências que incluíram uma temporada em Viseu. A nossa conversa com Casper Clausen arranca, naturalmente, por Portugal: a passagem por Viseu foi “fantástica”, parte “essencial” na feitura do novo disco dos Liima, banda que abarca três dos quatro Efterklang mas que troca os ritmos mais lentos e ambientes pastorais por um maior fervor eletrónico. Casper Clausen vive há uns anos em Lisboa e ri-se quando o definimos como a “Madonna indie” da capital portuguesa. “Nunca tinha pensado nesse conceito. Acho que gosto”, conta. Em Lisboa e em Portugal destaca “os bons amigos, que desde cedo” o fizeram sentir-se “em casa” – é comum ver o músico em concertos de outra gente, em bares no Cais do Sodré, a passar discos na Madeira ou em festivais de música mais especiais, como o Tremor, nos Açores, ou o Milhões de Festa, em Barcelos.
O método de composição é o que mais distingue os Liima dos Efterklang e, arriscamos, da maioria das bandas. “O facto de nos juntarmos todos durante uma, duas semanas, permite-nos fazer canções mais focadas, mais diretas ao essencial”, conta Casper. A preguiça não se abate, o tempo é limitado, a criatividade, normalmente, surge. 1982 vai buscar imaginário, estética e conceito à década, lá está, de 1980, mas pretende ser mais que isso. “Não é um disco de nostalgia ou de passado, fomos a essa década mas são canções que queremos também que funcionem no futuro”, revela o músico.
Recentemente, os Liima estiveram em digressão com os norte-americanos Grizzly Bear, fazendo as primeiras partes de uma das mais importantes bandas do espetro alternativo de anos recentes. Casper revela-nos que “os primeiros concertos dos Grizzly Bear na Europa foram precisamente a fazer as primeiras partes dos Efterklang”, e todos os músicos de ambas as bandas são amigos de há vários anos para cá: “Eles são super porreiros, mega-profissionais. Gosto imenso de ver os concertos deles, aprendo sempre imenso. No final, quando alguém falha uma nota ou está fora de tom, leva na cabeça”, ri-se Casper, traçando depois a analogia com os Liima: “Connosco não é nada assim, somos mais descontraídos e falhamos e rimo-nos disso”.
Casper anda por aí. Se o virem, paguem-lhe uma imperial – e perguntem quando é que os Liima apresentam 1982 na cidade e no país que alberga a voz destas imaculadas canções. “Vamos ver”, diz-nos. Pode ser já?