Sobre este Fachada, já se disse muito. Desde o seu mergulho na cena musical nacional, no já poeirento ano de 2007, que foi coleccionando mãos-cheias de admiradores e inimigos. Para todos os que lhe prestam culto como uma espécie de messias de guitarra na mão, existem mais cinco que lhe repudiam a olhos vistos. E baseiam o seu repudiar não na música em si – que à qual é difícil não admitir qualidades – mas na personagem em si.
E que personagem vem a ser esta? Fachada não se esconde pelas sombras no que toca à sua música. Sabe quem é – e principalmente, sabe que é, de facto, do melhor que temos neste pequeno país – e celebra-o. Celebra-o espremendo um pouco de si e da personagem que foi pintando ao longo dos anos em tudo o que escreve – um ser que sabe ser grande, que sabe ser belo no que é feio e feio no que é belo, que sabe que é e que existe e que o quer mostrar. E é esta presença avassaladora de quem é este Fachada, criatura que se assemelha quase a uma caricatura de si mesmo, na sua música, que faz tantos torcer o nariz mal o seu nome vem à conversa.
Mas aqui, Fachada abre uma excepção. Não é a mesma caricatura, o mesmo exagero colossal de si mesmo que gaba feitos e chora em demasia corações partidos ou que critica e ataca com uma fúria de víbora e uma troça de criança o que vê em seu redor. É Bernardo. Homem.
Nunca se viu um Fachada assim – tão cru que arrepia. A caricatura some-se para surgir um ser humano como qualquer outro, mas que possui uma arma maior que nós todos: a braguesa, da qual se serve para nos entornar nos ouvidos melodias como esta.
É de uma melancolia tão doce que derrete os dentes. Ao embalar dos acordes gemidos pela fiel braguesa, que o acompanha ao longo de todo o disco, Fachada surge pela primeira vez despido da sua habitual personagem, assume uma fragilidade arrepiante e parece suspirar cada verso com uma habilidade despreocupada de quem desiste após um olho negro. Ainda lá está um Fachada ciente de si e da sua qualidade, mas fala-nos nos olhos em vez de nos falar do palco. Como afirma com uma voz cansada e longínqua, assumiu-se, e ficou tudo para nós.