Os Alice in Chains (AiC) disputaram com Nirvana, Soundgarden e Pearl Jam o estatuto de reis do som alternativo de Seattle, o tão falado grunge. Ninguém parece saber bem o que isso quer dizer, mas para mim grunge sempre foi sobretudo o som dos Alice in Chains, embora sempre tenha adorado os Nirvana e respeitado muito os restantes.
A vida dos AiC sempre foi muito marcada pelas personalidades de Jerry Cantrell, guitarrista e principal compositor do grupo, e de Layne Staley, o carismático vocalista que ajudou a banda a subir de nível e dar corpo à visão de Cantrell. Infelizmente, estes dois irmãos de armas puderam trabalhar juntos em apenas três discos (mais dois óptimos EP) da banda. Quando Staley morreu, finalmente perdendo a prolongada luta contra a heroína, dir-se-ia que o mesmo sucederia à banda. No entanto, Cantrell não desistiu do seu sonho e, com um novo e muito competente vocalista no lugar do insubstituível Staley, os AiC já lançaram mais dois discos bem apreciáveis.
Este “Would?”, que hoje trazemos aos frequentadores do Altamont, foi um dos singles para aquele que é o melhor disco da carreira dos Alice in Chains: Dirt, de 1992. É um disco imenso, extraordinário, que incorpora como nenhum outro um tempo e um espaço: Seattle no início dos anos 90.
Tanto assim é que a primeira vez que o mundo ouviu “Would?” foi no filme “Singles”, protagonizado por Matt Dillon e Bridget Fonda. O filme, de Cameron Crowe, é ele próprio uma cápsula do tempo e daquela cidade, contando a história de uma banda entre muitas. Na película entram inúmeros músicos, dos Alice in Chains aos Pearl Jam, havendo até lugar a uma rara aparição de Tim Burton.
“Would?” foi composta, como habitualmente, por Jerry Cantrell, que explicou que o tema foi inspirado pelos seus dias passados com Andrew Wood, o malogrado vocalista dos Mother Love Bone que também foi vitimado pela heroína. Das cinzas dos Mother Love Bone nasceriam…os Pearl Jam. Antes do sucesso colocar uma lupa mundial sobre Seattle, Cantrell, Wood e Chris Cornell eram inseparáveis, e partilhavam tanto a música como uma profunda amizade, infelizmente interrompida antes do tempo. Dessa dor nasceu este tema, para mim talvez o melhor cartão de visita para o poder, a raiva, a angústia e a melodia dos grandes Alice in Chains.