Os Brockhampton apontaram a lupa para dentro e investiram mais tempo na produção. Ginger é o seu disco mais maduro e bem produzido.
A vida não tem sido fácil para os Brockhampton. Apesar de terem sido lançados para a estratosfera graças à sua trilogia Saturation, a expulsão de Ameer Vann do grupo devido a alegações de abuso sexual e a consequente reestruturação de Iridescence levou algumas pessoas a perguntarem-se se o grupo seria capaz de sobreviver sem um dos seus membros mais notáveis. Ginger é, portanto, um manifesto de independência e redenção.
Uma coisa imediatamente aparente logo nos primeiros segundos do disco é a produção. Este é sem dúvida o disco mais polido da boy band, mas os puristas podem estar descansados; mais do que uma tentativa consciente de agradar às massas (não que haja algum problema com isso), nunca foi tão necessário a mensagem fazer-se ouvir. E que bom que é ouvi-la! O dedilhar almofadado de “No Halo” mal nos prepara para a catarse que a canção traz consigo, motivada principalmente pelos pedaços de introspeção salpicados pelo grupo, como “We don’t go there no more/We don’t see sun no more” e “I don’t know where I’m going/If I gotta take the high road, I’m rolling”, frases angustiadas que antecipam a esperança encontrada no refrão “I’m sure I’ll find it”, uma frase potente na sua universalidade.
Musicalmente também encontramos mais sofisticação, como o trombone que complementa os teclados dub de “If You Pray Right”, cuja coda consiste numa paródia gospel totalmente atípica dos Brockhampton, ou nas múltiplas secções ao longo da viagem que é “Dearly Departed”, talvez a música que mais explicitamente faz referência Ameer e aos sentimentos ambivalentes do grupo em relação ao ex-membro e amigo, particularmente no refrão “Dearly departed/Look what you’ve started”. O momento em que a música para e Joba grita “Why?” num falsetto impecável é talvez o pico emocional de um disco em que as emoções estão sempre à flor da pele.
É necessário salientar que este não é apenas um disco triste. Apesar do lado mais soturno do espectro ser o mais explorado, o grupo também incluiu no álbum alguns momentos mais ligeiros que nos lembram que estes são os miúdos que conquistaram o mundo com Saturation. “Boy Bye” é puro braggadocio em toda a sua hiperbole surrealista (O que estava no café de Matt Champion quando este escreveu “Man, this shit bump like a belly when it’s pregnant”?) Uns momentos mais tarde, o baixo elefântico de “St. Percy” proporciona a Ginger um raro momento de peso, no sentido mais musical do termo.
Abandonando parcialmente a sua preocupação em criar statements icónicos a nível musical e estético, os Brockhampton deram prioridade à narrativa, à introspecção e à coesão. Ginger é o seu disco mais conciso e maduro e, esperemos um prelúdio de tempos mais felizes e igualmente produtivos.