O Reverence Valada já está a deixar saudades e não foi por acaso que os Black Rainbows regressaram pela segunda vez a Portugal, tendo em conta que protagonizaram um dos espétaculos mais memoráveis do vasto cartaz. Oriundos de Roma e no ativo desde 2005, o trio do psych-fuzz cuja sonoridade balança entre o hard-rock dos 70’s e o stoner dos 90’s pousou as naves na clareira discreta que dispunha de um dos palcos secundários. Se a banda dispõe de mãos largas para segurar o peso dos oito álbuns editados, Hawkdope é a arma de chumbo que disparou a favor da sua visibilidade.
Na segunda feira passada, Gabriele Fiori (vocais, guitarra), Alberto Croce (bateria) e o mais recente membro Giuseppe Guglielmino (baixo) reviraram o familiar Sabotage (para não chamar segunda casa), após terem marcado presença em Leiria. Uma das premissas do seu regresso é a apresentação de Stellar Prophecy, editado em abril deste ano, disco que dizem seguir “a mesma linha” que Hawkdope. No entanto, no novo disco bebemos de riffs mais pesados e distorções mais cósmicas. O selo de ambos os trabalhos é a editora do próprio Fiori, Heavy Psych Sounds.
Pouco depois das 12 badaladas, o trio esteve connosco quase uma hora. Poucas palavras foram proferidas, o alinhamento foi fluído e sem paragens, a postura foi consistente e quase firme. Os Black Rainbows não se movem efusivamente como dita a sua arte porque esta é dona de si para saber falar que a viagem é de carrossel em loop. Sem enjoos incluídos. Arrisco-me a considerar que tudo o que produzem é muito melhor quando experienciado. Ouvir álbuns de estúdio e viver um espetáculo é diferente, mas neste caso é de frisar que a diferença entre as duas atividades é bastante notória. “Electrify”, single e primeira faixa do novo álbum foi o arremesso pefeito, a escolha mais deduzível para abrir o concerto. E assim foi. A banda seguiu com uma das novas faixas, “Evil Snake”. A terceira no alinhamento foi a incansável “Hawkdope”, com um riff clássico reminiscente das desert sessions e da solarenga L.A. dos anos noventa. O solo é longo e ainda assim consegue saber a pouco. A frenética “Hypnotize my Soul with Rock’n’Roll” é recebida melhor que nunca e é a malha crua que deveria ser sugerida a como cartão de visita a alguém que nunca tenha ouvido Black Rainbows. Não faltou “The Prophet”, o ponto de ebulição de Hawkdope, entre outras do mesmo disco, somando uns interlúdios que recorreram ao baú de memórias dos discos mais velhinhos.
Numa sala semi-cheia, o arco-íris sonoro do trio italiano escorreu pelas paredes do Sabotage e dispensou qualquer tom negro, para um público que viajou individualmente por trilhos vertiginosos, sem desafiar as leis da gravidade.
Texto de Catarina Soares
Fotos de Joana Jesus