O novíssimo disco do duo de Akron, no Ohio, surge depois de um processo atribulado que incluiu o cancelamento de uma digressão e o despedimento dos managers. Trabalho com ares bluesy, funk, soul, R&B e country, remissão para sons dançáveis dos anos 70, elevada competência, mas sem genialidade.
Há pouco mais de um ano, aqui se escrevia sobre o então novo álbum dos Black Keys, Ohio Players, recheado de colaborações sonantes e com a ambição de uma digressão de sucesso associada ao trabalho feito. Parecia pura rotina, um novo passo rumo ao sucesso. Porém, sem que se percebessem muito bem as razões, tudo correu mal – a digressão foi cancelada e, pouco depois, surgiu o anúncio de que Irving Azoff e Steve Moir, os managers, foram despedidos, tal como sucedeu a toda a equipa de relações públicas.
Na sequência desse processo, a banda não se remeteu ao silêncio – voltou a estúdio e dedicou-se à escrita e gravação de No Rain, No Flowers, o disco número 13 do percurso. “O nome vem de uma expressão que ouvimos e pareceu-nos capaz de expressar aquilo que vivemos nos últimos tempos”, confessou Dan Auerbach, o guitarrista e vocalista do grupo, em conversa com a revista Rolling Stone, no passado mês de fevereiro.
O resultado é compostinho, jeitoso, mas não capaz de manter toda a gente hipnotizada com o brilhantismo de letras e músicas. Ainda assim, mantém-se o hábito de incluir colaborações importantes como, por exemplo, o produtor de Lana Del Rey, Rick Nowels, a enorme experiência de Scott Storch no universo de R&B e hip-hop, além de Daniel Tashian, essencial para que Kacey Musgraves tivesse sucesso com o seu Golden Hour. “Há uns anos, trabalhei com a Lana num disco intitulado Ultraviolence, e ela escreveu quase tudo em parceria com o Nowels. O nome dele surgiu quando falávamos neste novo disco, agendámos uma sessão em estúdio, ele veio e, partindo do título No Rain, No Flowers, depressa surgiu a música” que abre o álbum, contou Auerbach ao site NPR. E esta abertura é prometedora, mas o que se segue nem sempre mantém o nível…
Por Scott Storch confessou ser “obcecado”, tal como o seu parceiro de banda, Patrick Carney, desde os tempos em que eram estudantes. “A versatilidade dele nas teclas é assombrosa! Fizemos o convite e ele foi tudo o que esperávamos e muito mais – por exemplo, nota-se bem a sua presença ao piano na canção ‘Baby Girl'”, explicou Dan Auerbach, acerca de uma música da qual escorrem uma guitarra indie-rock e ritmos funk. Pelo meio está “Night Before”, que remete para tempos mais recuados, “Down To Nothing” conduz-nos ao mundo da soul, “On Repeat” parece uma brisa que sopra sem deixar marcas.
“Make You Mine” soa a anos 70 e nem sequer lá falta, num coro a ecoar, o falsete a lembrar Bee Gees; “Man On A Mission” cheira a blues rebelde com batida bem vincada e definida; “Kiss It” é uma dançável dose de mel sob a forma de canção; “All My Life” resvala para os tempos do disco sound; “A Little Too High” soa ao southern rock de Lynyrd Skynyrd.
E o disco fecha com a tranquila “Neon Moon”, uma clara piscadela de olho à country de John Denver e ao seu famoso tema “Take Me Home, Country Roads”. Uma parte da letra, no começo da canção, parece a síntese perfeita sobre as atribulações vividas pela banda: “When you’re at the crossroads/And you don’t know where to turn/And everything is backwards/From all the bridges that you’ve burned/Don’t let yourself get down too long/’Cause a change is comin’ soon/You can always find your way back home.”
Estas 11 músicas não se traduzem no melhor, nem no pior momento dos Black Keys em termos de criatividade. Mas, apesar de toda a competência, fica a suspeita de que se tratou de uma fuga para a frente num momento crítico. E isso não costuma ser um bom sinal.