O regresso ao Lux é sempre um evento muito desejado, especialmente considerando o que aconteceu no último ano. Mais especial se torna quando, depois de há sete anos ter assistido ao funeral de Walter Benjamin, o então alter ego de Luís Nunes, para dar espaço ao seu projecto na língua materna. Volvidos três álbuns, voltámos a Santa Apolónia para comemorar o aniversário do lançamento de Vias de Extinção, gravado durante o primeiro confinamento.
Depois de meia hora a aguardar que o público chegasse e cumprisse uma sala praticamente esgotada, a banda finalmente entrou. João Correia, seguido de Nuno Lucas, António Vasconcelos Dias, Vera Vera-Cruz, Manuel Pinheiro e, finalmente, Benjamim, que, como todos nós, parecia ansiar por aquele regresso. Um concerto de Luís Nunes, seja com que projecto for, nunca desilude, seja pelo entusiasmo com que nos recebe ou o prazer com que toca cada acorde ou cada tecla. E é sempre um sentimento partilhado por todos nós que nos vamos acotovelando para o(s) ver e conseguir responder na melhor medida possível, com a letra na ponta da língua.
Se a viagem pelas primeiras faixas de Vias de Extinção (com um salto por “Domingo” antes de voltar a “Segunda-Feira” e a “Ângulo Morto”) pôs o público todo a dançar e a recordar aquele mood das noitadas, a revisitação a “Dança com os Tubarões” que Benjamim trouxe para o palco, agarrando toda a nossa atenção, preparando-nos para “Disparar”. Porque “é melhor dançar que disparar”, cantou-se com toda a força, numa plateia pronta para evangelizar o mundo com aquela verdade.
Até que as luzes baixaram e Benjamim voltou ao piano para nos dar conta de “Berlengas”, álbum essencialmente instrumental e electrónico, que os mais atentos já conhecerão certamente, e introduzir um dos momentos mais intimistas do concerto, evocando uma viagem pelas paisagens sonoras que o músico tem estado a construir e que serão certamente sinónimo de um novo pico criativo da carreira ascendente que tem trilhado até agora. Benjamim está crescido e isso é bom de se ver.
Como já vem sendo habitual, a noite não se podia fazer sem que Benjamim chamasse ao palco alguns dos seus amigos. Neste caso, subiram B Fachada e José Vasconcelos Dias para cantar “Olá, Então Como Vais”, a música que abre o disco de homenagem ao produtor e compositor Tozé Brito, e embalar um público completamente rendido.
“Rosie”, a música originalmente escrita por AP Braga e Fausto Bordalo Dias, surgiria de seguida, dividida entre as vozes de Benjamim e de António Vasconcelos Dias, e certamente outro dos momentos mais bonitos da noite.
Numa plateia repleta de fãs, amigos e família, houve ainda tempo para uma menção muito especial à avó do músico, a quem dedicaria todo o rock’n’roll de “Sintoniza”.
O concerto fecharia com chave de ouro, ao som de “Incógnito” e, no único encore realizado, “Vias de Extinção”, single que dá nome ao álbum. Por todo o lado, se ouvia entoar com deleite, “Eu não sei guardar a força a mais / Não sei chegar-te aos calcanhares / Eu não sei dar um ponto sem nós”. Ninguém queria largar os últimos cartuchos e são estes momentos que nos valem em absoluto porque nos trazem, ainda que por um par de horas, um vislumbre de salvação e que nós sorvemos com sofreguidão.
Fotografia: Inês Silva