E ao terceiro disco, Angel Olsen está finalmente mulher. Afinal, Burn Your Fire For No Witness foi apenas um prenúncio brilhante de alguém que já não quer ser só a menina triste e tímida do indie folk. O disco de 2014 surpreendeu e, dois anos depois, volta com My Woman, onde ouvimos Angel Olsen com as mesmas dúvidas existenciais sobre o seu lugar no mundo, mas numa versão mais crescida e segura.
Angel nasceu em 1987 na cidade independente de St. Louis, Missouri. Adoptada aos três anos, era a mais nova de oito irmãos e só sonhava em crescer e ser dona e senhora de uma voz de mulher. Hoje, quase a completar 30 anos, Angel Olsen pode estar orgulhosa: a sua voz é de mulher, mas a forma como a sabe utilizar também. Olsen aprendeu a ser quente ou fria, triste ou revoltada, consoante nos canta as suas histórias por versos de amores malvados – ou outras tragédias que tais. Enquanto compositora e intérprete amadurecida, libertou-se e evoluiu na sua música, agora num indie menos folk e mais rock.
E isso nota-se logo na canção de abertura “Intern”, que nos apresenta os sintetizadores, nunca antes explorados por Olsen, seguindo-se “Shut Up Kiss Me” e “Not Gonna Kill You” com aqueles acordes simples e sonantes, mais viciantes pelo seu ritmo e tom. Três canções que se destacam no lado A (faixas 1 a 5) de My Woman, mais rebelde e atrevido do que o seu lado B (faixas 6 a 10), onde as canções são musicalmente mais exploradas. Espreitemos por exemplo “Sister” ou “Woman” cada uma com quase oito minutos de duração e, por isso, também muito ricas instrumentalmente. Ou aquela saudade presente em “Those Were the Days”, onde acabamos acompanhando Angel Olsen num loop marcado pela bateria e, finalmente,“Pops”a fechar o álbum a voz e piano.
My Woman pode não ser um disco para todos, mas é tudo isto. É fácil não ficar entusiasmado por este álbum, mas a sua qualidade não pode ser ignorada e, mesmo que seja daqueles discos que não vamos ouvir todos os dias, porque não nos vai apetecer, vamos para sempre recordá-lo como parte da boa colheita de 2016. Eu cá desconfio que o vou ouvir mais vezes.