Baixo ao alto e ao ar. A competentíssima baixista das californianas Warpaint, Jenny Lee Lindberg, passou agora para o centro do palco, na sua primeira aventura a solo, minusculizada com o nome de infância jennylee e eternizada no álbum right on! Pena que a margem livre em que respira o seu garage-dream-pop (ou qualquer coisa assim) não consiga fintar a formalidade restritiva e unilateral de uma entrevista feita por mail. Esta mesmo. Ainda assim, vale a pena ouvi-la e lê-la.
Altamont: Este primeiro disco a solo era um sonho antigo?
jennylee: Absolutamente. Já fazia a minha música muito antes das Warpaint, mas nunca tive a coragem para a partilhar… Até que surgiu um dia em que me senti preparada para isso. Esse foi um bom dia. E qualquer dia depois desse também. É fantástico sentir os nossos sonhos a cumprirem-se.
Qual foi a sensação de ser de repente a única líder, a pessoa que tem que tomar todas as decisões?
Adorei, mas, mais uma vez, é uma sensação diferente. Também adoro colaborar com as moças [referência óbvia às Warpaint] que me dão um sentimento mágico. Mas poder ver a concretização de uma ideia minha do início ao fim é uma sensação incrível.
O right on! é muito minimal e muito próximo do registo caseiro. Essa simplicidade permitiu-te experimentar e explorar melhor a canção anti-convencional?
Trata-se apenas de mim a querer soar como desejava. O disco é muito próximo do som ao vivo, e eu queria capturar isso.
Eu gostava de evitar esta pergunta previsível, tão previsível que tenho mesmo que a fazer: porquê o nome jennylee?
Era como me chamavam quando eu era pequena. São o primeiro nome e o do meio. Tentei fugir desse tratamento a partir dos meus nove anos de idade. Sentia que era um nome demasiado infantil e eu ansiava tanto ser uma adulta. Só com os meus vinte e poucos é que voltei a adoptar esse nome, porque passei a sentir a falta dele. Havia algo que me fazia sentir bem se voltasse à jenny, de modo a sentir de novo a minha criança interior.
A gravação de right on! foi um teste permanente à tua auto-confiança?
Completamente. E que me permitiu ser livre, que permitiu desbloquear-me. Que me permitiu soltar-me do auto-criticismo e do auto-julgamento. Que me permitiu não ter limites para apenas poder fazer arte. E foi e é uma bela maneira de se fazer arte, talvez a única maneira que consigo.
A Jenny e a baterista Stella [Mozgawa] formam nas Warpaint uma das mais fortes secções rítmicas que alguma vez vi ou ouvi. É difícil trabalhar sem ela?
A Stella tocou comigo em algumas canções. Claro que foi diferente tocar sem ela, mas não diria difícil. O Norm [Block] também é incrível, e é excelente a seguir a minha direcção.
Passei óptimos bocados nalguns dos concertos que as Warpaint tocaram em Portugal. Há uma enorme ligação face-a-face entre toda a banda, especialmente a partir de ti, e a forte ligação de amizade entre vós em palco é por todos sentida. É o divertimento uma das peças-chave da boa química das Warpaint?
Eh pá, se é! E para tudo. Se não houver divertimento, para quê fazê-lo? Toda a gente deve tirar gozo do que faz e adorar o seu trabalho. Fazer arte é o acto mais divertido de que me posso lembrar.
Uma das grandes valias das Warpaint é a dificuldade em encontrar rótulos para vos descrever. Mas talvez me possas ajudar a definir a vossa banda: as Bangles a fazerem de Sonic Youth?; a melancolia que sabe como dançar?; rock que cheira a dub?
Ah ah, todas essas definições são excelentes!!! Jamais discordaria delas.
O teu marido, Chris Cunningham, esteve a filmar as Warpaint para um documentário. Será que me escapou a data de estreia?
Não tenho a certeza quando será publicado. Ficou em espera porque ele teve que começar a trabalhar noutros projectos.
Nós, portugueses, podemos esperar um concerto em breve da jennylee?
Oxalá que sim, farei tudo para que isso seja possível.
Entrevista de Gonçalo Palma