Foi uma noite de entrega e comunhão no Coliseu dos Recreios, onde Alice Phoebe Lou subiu ao palco para provar que a sua música tem tanto de etéreo como de profundamente humano.
A acompanhar esta viagem emocional, Cordelia (O’Driscoll) abriu o concerto com um registo íntimo e melancólico, transportando o público para uma atmosfera de folk britânico que se revelou surpreendentemente familiar.
Apesar de ser a “voz de abertura”, Cordelia mostrou maturidade artística e uma presença segura. As suas letras, delicadas mas intensas, falaram de amor e perda num mundo “em chamas”, como ela própria notou. No final da sua atuação, ficou a clara sensação de que Cordelia está pronta para voos próprios – e Lisboa, ao que tudo indica, está pronta para a receber novamente.
Após um curto compasso de espera, o Coliseu foi tomado pelo entusiasmo do público. Alice Phoebe Lou entrou em palco com Angel, e bastaram os primeiros acordes para conquistar a sala. Depois do concerto no LAV, em Novembro de 2023, Alice regressou à capital portuguesa para um dos maiores concertos da sua digressão e não desiludiu.
Durante a noite, mostrou-se leve, sorridente e sempre presente. Partilhou com o público o prazer do seu passeio por Lisboa naquele mesmo dia, falando de como a cidade a tinha renovado – e isso transpareceu no palco. A sensualidade de Dusk, a entrega crua em Only When I e a comunhão emocional de Glow, Child’s Play ou Lose My Head, foram momentos altos de um alinhamento escolhido com o coração. “Canto as músicas que mais me apetece cantar”, confessou. E nós, rendidos, seguimos-lhe o instinto.
Entre temas, não faltaram memórias de Paredes de Coura, onde se apresentou pela primeira vez em Portugal, nem a celebração do crescimento que agora a leva a um palco maior, com uma audiência rendida. Alice dança com a alma solta, ri com o corpo inteiro e canta com o coração à flor da pele. E o público ouve, sente e responde com o mesmo entusiasmo e ternura.
A meio do concerto, num momento de pausa e introspeção, Alice ficou sozinha em palco. Sentou-se ao piano para interpretar Lately e My Girl, dedicada a “todas as mulheres que têm de aturar merdas sem razão nenhuma”. Foi uma pausa íntima e vulnerável, coroada com a sua já habitual e sentida versão de Harvest Moon, de Neil Young.
Com cinco álbuns e vários EPs na bagagem, Alice não tentou agradar a todos – escolheu agradar a si mesma. E, talvez por isso, a noite soube ainda mais genuína. O público devolveu-lhe em aplausos, corações abertos e vozes que a acompanharam em coro.
No fim, uma certeza: não nos deixemos iludir pelo seu ar angelical e doce. Alice Phoebe Lou é uma força da natureza que encontra no palco um lugar de partilha, emoção e liberdade. E Lisboa continuará a abrir-lhe as portas do coração.
Alinhamento:
- Angel
- Touch
- Dusk
- Only When I
- Open My Door
- Hammer
- Lately
- My Girl
- Harvest Moon
- Velvet Mood
- Shine
- If You Were Here
- Lover // Over the Moon
- Silly
- Glow
- Child’s Play
- Lose My Head
- Underworld
- Witches
- Dirty Mouth
Fotos em atualização