Já mil vezes se disse, outras tantas se escreveu, e toda a gente sabe: vivemos num mundo globalizado, onde as distâncias são cada vez mais curtas, medidas pela velocidade a que se comunica. E se há lugar onde isso melhor se nota, onde mais depressa se anulam fronteiras e se esbatem diferenças culturais, esse lugar é a música. E se lhe calarmos a voz, se nos ficarmos pelo som dos instrumentos que constroem o imenso universo da música pop/rock/electrónica, é virtualmente impossível determinar, pelo que se ouve, qual a sua origem.
Por isso, David Kira pode ser um qualquer miúdo de uma qualquer cidade do mundo, pouco interessa, “a música é universal”, diz-se e com razão, o mundo consome todo do mesmo bolo, a música circula depressa e por todo o lado, haja uma ligação à internet, e a sorte de encontrar ou a sabedoria de procurar nos sítíos certos.
Neste caso, foi o próprio David Kira que me procurou, por email, há uns anos. Tive sorte. Foi uma mensagem breve, proveniente de Valência (Espanha), e apresentou-me a electrónica deste músico e produtor que começara anos antes os primeiros ensaios (sérios, muito sérios) daquilo que se tem vindo a tornar uma obra de bandas sonoras, distribuídas por vários singles, EP’s, e dois LP’s.
Este último chama-se Cinema, e assume em pleno a sua condição de ambiente sonoro para um filme criado à medida da nossa imaginação. É um disco escuro, feito de inverno, atmosférico mas elaborado, que viaja entre o tranquilo e o quase violento. Bem produzido, é daqueles que não absorvemos à primeira, mas se vão moldando, encontrando espaços entre as nossas memórias; tal como aquelas imagens ou frases ou ideias com que de vez em quando nos cruzamos e que encaixam sempre num ponto qualquer da nossa história. E isso não é preguiça, é sensibilidade, e inteligência.
Este novo Cinema, bem como os seus trabalhos anteriores, estão amplamente disponíveis online, algo que David Kira faz muito bem: uma activa gestão e divulgação por tudo quanto é canal de distribuição.
E mesmo assim ainda não o conheciam… pois é, a sua música esconde-se num imenso mar de oferta, e chegar até ela pode ser obra do acaso ou da sorte. Ou da oportunidade de alguém reparar, e de fazer dela a banda sonora dos dias. Essa é a parte fácil.
