Como é possível chamar-se a isto um site de música e ainda ninguém ter mencionado um dos álbuns mais importantes do primeiro trimestre do ano? Ou será que já não há respeito por lendas vivas da História da Música, que andam há quase 50 anos a dar-nos pérolas? Vamos lá a repor a justiça no marcador e partilhar aqui algumas impressões que ficam deste The Next Day.
E para começar dizer que apesar de Bowie ser o mestre total do inesperado, da ruptura com o que estava feito (só entre 1970 e 1980 terá mudado de estilo e sonoridade pelo menos 5 vezes), ao 24º álbum isso já fica um pouco mais difícil. Já com 66 anos, Bowie sabe que os tempos são outros e isso é por si um tema em destaque neste álbum, começando logo pela capa que se sobrepõe à de Heroes, e estendendo-se às letras em si, onde está premente um pessimismo em relação ao que aí vem, uma espécie de anúncio das dificuldades que se avizinham: I can’t get enough of that doomsday song / You can’t get enough of it all em “The Next Day” ou Buildings crammed with people / Landscape filled with wrath em “You Feel So Lonely You Could Die”.
Em termos de sonoridade é um álbum rico, diverso, rockeiro em “(You Will) Set the World on Fire”, suave em “Where are we Now?”, equilibrado nas restantes. Foram 10 anos sem notícias de Bowie, até ao surpreendente anúncio de novo álbum (nestes tempos conseguir esconder um segredo destes é notável) e o sentimento é de que “The Next Day” cumpre com nota elevada as expectativas que sobre si se colocaram, encaixando com perfeição na montra que é carreira do britânico. Se será a sua pièce de resistance ou não há que aguardar. Até lá este álbum deixa-nos reconfortados.