Quarta-feira foi noite de fritura no Musicbox, com os japoneses Acid Mothers Temple a rebentar a nossa mente com o seu psicadelismo espacial.
Não falo só no sentido figurado. Ao meu lado, uma miúda encharcada em ácidos queimou a sua última sinapse saudável e caiu redonda no chão. Não se aconselha o consumo de LSD num concerto dos nipónicos. A sua música, por si só, já altera a nossa consciência. A acumulação com substâncias gera facilmente uma overdose.
Tocaram poucas músicas, não porque fosse curta a sua actuação, mas porque cada tema era uma viagem distendida ao sabor da improvisação. Começaram com exotismos arabescos movidos a alaúde, orientais imitando a forma como o rock psicadélico ocidental sempre imitou os orientais. Prosseguiram com uma distorção da nossa experiência do tempo, fazendo os ponteiros dos segundos derreterem-se como relógios de Dali. Seguiu-se depois um tripanço cheio de groove, e de repente todas as nossas alucinações pensaram que eram o James Brown. Depois, o baterista entusiasmou-se tanto com a sua batida motorik à Neu! que partiu a pele do timbalão. Enquanto o desgraçado reparava a bateria, a banda ia fazendo tempo com cânticos budistas e dedilhados à Byrds. Acabaram com o instrumental “Pinky Lady Lemonade”, um tema doce como uma balada dos Love, mas que se vai transformando no mais caótico ruído atonal.
Templo das mães do ácido? Agora, sim, percebemos o nome…
Fotografias gentilmente cedidas por Ana Viotti