Sempre me foi um bocado difícil aceitar os Pearl Jam, confesso.
Não terei sido o único a estabelecer uma dicotomia rivaleresca Pearl Jam-Nirvana, na altura, e forcei-me a decidir entre uns e outros, como quem se encontra indeciso entre seven-up e coca-cola ou entre compreservativo ou sempreservativo.
Ambas as bandas emergiam de Seattle decididas a gritar alto contra a corrente de merda musical que circulava nos media, mas se o Cobain representava a fragilidade de uma juventude deprimida, por sua vez o Vedder exalava saúdinha, entusiasmando, com musculados gémeos, virgens conas (não vale a pena negar). Evidentemente que escolhi a excentricidade introspecta do Kurt e vetei os Pearl Jam a quase a um desprezo (na verdade, se nunca gostei do Ten, interessei-me qb pelos conceitos do Code e especialmente do Vitalogy, mas achando-os, sempre, demasiado bonitinhos).
Alguma maturidade depois, constato que o percurso do Vedder foi – e ainda é – discreto, suave e ao mesmo tempo prolífico, afastando-se de vedetismos (por onde ele muito facilmente poderia enveredar, se quisesse) e de dinheiros fáceis. Participou em diversos projectos, a maioria pouco conhecidos do público, e os que ouvi tenho de admitir não serem maus (apesar da ingenuidade dos calções de skater e cabelos ondulantes não lhe sair da tripa, diria). E sem grande profundeza de análise, afirmo que o respeito (enquanto artista, que o resto não sei).
Mas, ora bem, a arte não existe sem dinheiro. O Vedder pôde optar por este percurso precisamente por ter ficado podre de rico com os Pearl Jam. Qual o problema em admitir isto? Tal como o Cassavetes fez de actor em filmes mais comerciais para poder financiar os seus de maneira independente. Tal como o Martin Scorsese realizou filmes pornográficos de cariz homossexual para poder soltar o magnífico Taxi Driver. E por aí adiante. A própria palavra independente nasce daí: do ter-se dinheiro para não se ser um empregado de estúdio, um servo das produtoras. Os Sonic Youth (sim é verdade refiro-os muito) só podem ser os músicos extraordinariamente prolíficos que são em parte graças à Geffen. E não vejo razões nenhumas para me chocar com as recentes reedições do Daydream Nation e Dirty. É isso que lhes dá o poder de não sofrerem interferências no seu trabalho.
Portanto, basicamente, apenas quero dizer que não encontro lógica nenhuma para nos chocarmos com as reedições per se. Com os artistas e músicos pouco prolíficos, one-hit wonders, sim, em relação a esses soltemos um suspiro lamentoso. Em uníssono, se quiserem.
mas eu não coloquei os pearl jam no primeiro grupo…
No nosso utópico ideal cada artista faria só as coisas que lhe dão prazer pelo puro prazer, e não por dinheiro. É o que nós fazemos neste blog. Falar de música por puro prazer e não por dinheiro (se bem que nunca ninguém nos ofereceu, é verdade, mas pronto…). Mas infelizmente o mercado não funciona assim, e os artistas, tal como dizes Raul, aproveitam as suas qualidades para ganhar o seu. Ganham muito mais do que deviam, é certo, mas é uma questão de oferta e procura. No entanto, há artistas e artistas – uns que têm como objectivo tocar umas músicas e ganhar o máximo dinheiro possível disto, outros que tocam pelo prazer e continuam após vários anos a tentar inovar. Sinceramente, goste-se ou não da banda, não me parece justo que alguém coloque os Pearl Jam no primeiro grupo. Pelas várias demonstrações de suporte aos fãs (processo TicketMaster), a causas políticas (Rock the Vote), a causas benefecientes (Bridge School Benefit) e causas ambientais (Music for our Mother Ocean). And that’s it!
ahhhhhhhhhhhhhhhhhh