Os American Pleasure Club repetem a fórmula do disco anterior mas esta amálgama de géneros e influências beneficia de um processo editorial mais escrupuloso
Sam Ray é um homem multifacetado. Que o diga a sua discografia que engloba, entre singles, álbuns, mixtapes e EPs, 31 discos e 3 projetos musicais. Do garage narcótico dos Teen Suicide, ao folk sonolento dos Julia Brown, passando também pelo ambient eletrónico de Ricky Eat Acid, não há género com o qual Sam Ray não tenha experimentado. Depois de anos a prometer mudar de nome e de um disco de despedida (o expansivo e inconsistente, It’s the Big Joyous Celebration, Let’s Stir the Honeypot de 2016) os Teen Suicide foram finalmente rebatizados American Pleasure Club, aquando do lançamento de I Blew on a Dandelion and the Whole World Disappeared na véspera de Natal de 2017. Nessa altura anunciaram também o lançamento de uma mixtape intitulada A Whole Fucking Lifetime of This.
“florida (voicemail)”, apesar de breve, é um excelente indicativo do tom de todo o disco: lo-fi, sentimental e contemplativo. “this is heaven and id die for it” faz juz às origens punk pop da banda com um refrão digno de ser cantado por milhares de adolescentes incompreendidos e um solo de guitarra de uma expressividade raramente encontrada na discografia do grupo. Aos primeiros acordes de “all the lonely nights in your life”, um fã mais distraído diria estar a ouvir os extintos Julia Brown.
Desde a dissolução desse projeto que a música dos Teen Suicide/American Pleasure Club tem vindo a absorver a sua sonoridade e a guitarra e os coros delicados desta música contrastam perfeitamente com a agressão ouvida anteriormente. “sycamore” e “lets move to the desert” bebem da fonte de Ricky Eat Acid com o seu tom ambient eletrónico. “lets move to the desert” em particular contém um sample de Frank Ocean que eleva a canção ao estatuto de clássico. O refrão é simples, lembrando-se a um haiku na sua simplicidade “let’s move to the desert/every day/falling in love”. Mas as surpresas não acabam na primeira metade do disco. “just a mistake” tem como principal influência o breakbeat, uma mudança repentina que ameaça quebrar a atmosfera do disco mas, para quem segue a banda desde o início, este desvio não é algo estranho.
“A Whole Fucking Lifetime of This” é um disco demasiado coeso para merecer a designação de mixtape. Consegue ser tão diverso como o It’s the Big Joyous Celebration com metade da duração do mesmo. É também um trabalho com uma maturidade lírica que os discos mais antigos mal nos permitiam adivinhar. Se Sam Ray decidir parar com a música para sempre não terá muito com que se preocupar. O seu legado está assegurado.