Apesar da teimosia da chuva, a mudança da hora e o avanço da primavera devolveram às sessões do Vortex aquela sensação de fim de tarde em que o sol se deita e a energia se alvora. Nas Olaias, nem chill nem out! Na cave, Nagasaki Sunrise e Cuspo Veneno eletrizaram-nos o corpo e a alma!
Diz o povo que os santos da casa não fazem milagres. No shit!!! A malta aqui acredita mais nas maravilhas resultantes do trabalho (e do) colectivo que no pensamento mágico e prefere, de longe, o estéreo ao etéreo! Tudo isto para dizer que foi sem qualquer vislumbre de surpresa a rapidez que vimos os bilhetes voarem no regresso dos Nagaki Sunrise ao Vortex! Voltando aos ditados populares, juntou-se a fome à vontade de comer! É que, se por um lado, todo o esforço do colectivo que gere o Vortex tem resultado num número crescente de concertos esgotados, por outro, foi a primeira vez que o quinteto apresentou o novo Distroyer em (sub)solo lisboeta – ainda por cima depois de uma tour de dez datas pela costa oeste dos Estados (des)Unidos da América.
Os primeiros segundos da nova “Pacific nightmare ain’t over” foram suficientes para um contingente de fãs se instalarem à frente do palco em êxtase total. Seguiu-se a já clássica “Napalm in the morning”, do primeiro registo da banda – o EP Turn on the Power (2020), e tanto a temperatura como os índices de frenesim atingiram os vermelhos! Condições perfeitas para voltarmos aos temas de Destroyer, numa sequência de quatro temas concluída com a fabulosa “Bayonet Man”! Tempo para viajarmos até Distalgia de 2021, num novo poker que abriu com “Land of the rising sun”.
A pujante sonoridade dos Nagasaki Sunrise está assente numa das mais sólidas formas de casar metal e punk: uma robusta secção rítmica, muito influenciada pelo D-beat, segura as rédeas da cavalgada louca e harmoniosa de duas guitarras alfa (ao jeito da melhor da tradição do metal britânico) e da agressividade punk da voz de Gasolizna Nagasaki. E se esta “fórmula” resulta em disco, ao vivo, misturada com uma brutal e personalizada presença em palco e com um público fiel e fanático, a coisa ganha dimensões épicas … bem a condizer com as batalhas no Pacífico e com o espírito punk que dominam as letras. O concerto acabou com a tríade – “Ghosts of Iwo Jima” (do split com Battlescares de 2023), “Turn on the Power” e a nova “Destroy Rock City” – e com a sala suada, rouca e desesperada por uma cerveja!
Os Cuspo Veneno abriram as hostilidades de um modo coerente com o título do seu EP do ano passado – Simples e Incisivo. Atenção, não confundir simples com básico, o harcore punk do quinteto de Torres Novas, que me trouxe à memória os tempos da escola secundária, é straight to the point e sem rodiguinhos inúteis, seja no som, seja nas letras. Arrancaram com o viciante single, acabado de ser lançado nas plataformas, “Capitalismo Selvagem” e foram acelerando até terem sido rasteirados por alguns problemas técnicos. Nada que os tenha amedrontado e a pausa até serviu para a malta recuperar o fôlego de tanto mosh. O ataque prosseguiu por entre temas do dito EP e outros que apesar de, confesso, não ter conseguido encontrar nas minhas pesquisas cibernéticas … me ficaram gravados no disco rígido. A rever!
Fotografias de Rui Gato


















