E não é que o velhinho rock se recusa a deitar gentilmente na tumba? Aqui está mais uma prova.
Os King Hannah são uma dupla de Liverpool composta pela cantora Hannah Merrick e pelo guitarrista Craig Whittle que, depois de uma estreia promissora, cumprem agora com um disco que os coloca de vez no mapa. Falamos de Big Swimmer, álbum que os vê chegar à primeira divisão e promete coisas boas que estão certamente ainda por vir.
Aqui, o formato canção é rei. E há registos de todos os tipos, dentro do que é o rock alternativo. Temos verdadeiras canções maiores que a vida, como a faixa-título (com Sharon Van Etten), temos slow-burners como “Suddenly, your hand” ou o exercício a la Ana Calvi em “The Mattress”, pop inteligente em “New York, let´s do nothing”, registos rock a lembrar os Dry Cleaning como em “Milk Boy (I love you)”, com Merrick a narrar uma história sobre o fundo instrumental, ou o indie 90’s de “Davey says”.
Tratando-se de uma banda inglesa, não deixa de ser curioso quão americano este disco soa. A explicação é simples: foi na sequência do álbum de estreia, I’m not sorry, I was just being me, que a dupla andou em digressão pela América, incluindo a profunda. E isso ouve-se nas letras e sente-se nas paisagens desenhadas, sobretudo através da sensação de espaços amplos de alguns dos temas (“Somewhere near El Paso”).
As influências são uma coisa boa se não forem cópias ou coisas demasiado óbvias. Os King Hannah mostram as suas, chegando mesmo a mencionar o enorme Bill Callahan numa música e o não menos importante John Prine no título de outra, mas nunca se deixam capturar totalmente ou perder a sua personalidade, sempre amarrada à entrega carismática de Hannah Merrick. Pós de Sharon Van Etten, Ana Calvi, Dry Cleaning ou até ecos de Springsteen podem ser ouvidos, acrescentando ao todo.
Os melhores momentos de Big Swimmer dão-se, curiosamente, quando o volume desce e os dois se dedicam a fazer as canções mais calmas e mais bonitas, mostrando uma capacidade melódica que nos agarra. É assim em “Big Swimmer”, que se destaca das demais.
Este é um disco que nos mostra que há uma bela banda (mais uma!) de indie-rock contemporâneo, liderada por uma voz feminina e vinda do Reino Unido, algo que se está a tornar um fenómeno que merece ser estudado. A escrita inteligente (óptimas letras!) e a voz sedutora de Hannah Merrick fazem claramente a diferença e dão-nos vontade de voltar a carregar no play.