No passado sábado, os veteranos Ultimo Gobierno partilharam o palco do Vortex com os estreantes Itami numa poderosa demonstração da persistência e da permanente regeneração da cena Punk Hardcore.
No final da atuação dos Ultimo Gobierno, as feições do vocalista Tomás abrem-se num largo sorriso para agradecer a presença de todos e para reforçar o orgulho dos 40 anos de carreira da banda de Burgos. Quarenta anos de Punk Hardcore pleno de força, ganas e crítica social. Aliás, Tomás termina o breve discurso precisamente defendendo que as letras das suas canções mais antigas continuam a fazer sentido, porque lá fora, a situação continua igual, senão pior.
O “lá fora” foi acrescentado por mim, porque naquele momento, mesmo sentindo de onde veio aquele “todo es peor“, e mesmo tendo em consideração as negras nuvens de março de 2024, é muito difícil sentir-me pessimista no final de mais uma parelha de concertos no Vortex. Não falo do escape das coisas simples, rápidas e diretas que descrevi na semana passada, mas no contentamento interior por poder, mais uma vez, testemunhar o fantástico esforço coletivo e o espírito de partilha entre diferentes gerações – dentro e fora do palco.
O quarteto espanhol tentou, na verdade, esbater essa “fronteira” entre músicos e público. A pedido dos primeiros, as luzes da sala foram ligadas e Tomás fez mais de metade do concerto cá em baixo, bem junto de nós … desviando-se do slam ou amparando algumas danças mais descontroladas. A atuação dos Ultimo Gobierno foi, no mínimo, intensa! Em pouco menos de uma hora, debitaram mais de vinte temas a uma velocidade alucinada, percorrendo o seu já considerável catálogo, intercalando malhas dos anos oitenta como “Paz” ou “Soldados” com temas mais recentes como “Hielo Rojo” ou “Planeta Basura” – este último do fresquíssimo Camino de 1984, editado em fevereiro de 2024.
Apesar de ainda estarem a dar os seus primeiros passos, os Itami parecem já ter conseguido amealhar uma considerável legião de fãs. A sala mostrou-se bem composta e mexida desde os primeiros acordes. O quinteto tuga declara-se influenciado pelo movimento Burning Spirits (criado no Japão nos últimos anos do sec. XX) apoiando a sua sonoridade numa dinâmica que alterna momentos mais rápidos – característicos do punk hardcore – com andamentos mais lentos em que predominam o jogo de dedilhados entre as duas guitarras – trazendo à memória sons mais próximos do heavy metal. Destaca-se ainda o trabalho vocal da banda, com uma poderosa presença do vocalista principal apoiada pelos penetrantes coros debitados por ambos os guitarristas.


























