No seu 10º aniversário, o Festival Tremor volta a ligar alguns dos mais entusiasmantes nomes da música alternativa mundial à inesgotável riqueza natural da ilha de São Miguel.
O Festival Tremor, na ilha de São Miguel, é uma joia escondida à vista de todos na cena musical portuguesa atual. Quase como que envolvido por um folclore misterioso, são muitos os que sabem da sua existência e do seu carácter exclusivo e definidor de estéticas e de sonoridade vanguardistas, mas não são assim tantos os que conseguem definir o que por lá acontece. Uma coisa é certa, quem vai torna-se devoto e passa a acrescentar a essa mística, trazendo novos melómanos curiosos para este imaginário, que junta música, natureza e arte. A partir de hoje, e até sábado, Ponta Delgada é o centro deste universo e o Altamont teve a sorte de se poder juntar à aventura. A mala para o incerto tempo açoriano está feita. Nos próximos dias vamos medir o pulso àquilo que está quase a rebentar através do cartaz do Tremor mas, para já, fica a lista dos nomes que mais queremos ver nesta edição.
O primeiro dia, apesar de só ter um nome, tem um cartaz cheio com o veterano brasileiro Jards Macalé (“o herói algo proscrito da música popular brasileira”, como lhe chamou o nosso Carlos Lopes aqui). Feito o aquecimento, e descansados da viagem, começamos o segundo dia com o primeiro (de vários) “Tremor Todo-o-Terreno”, os concertos-caminhadas que já são tradição no festival e que ilustram bem a simbiose que se estabelece entre a ilha no seu todo e este evento, levando a que os visitantes conheçam não só música nova, como também a beleza natural de São Miguel. Este ano serão os Lavoisier os anfitriões desta aventura. Começarão também os “Tremor na Estufa”, uma aventura um pouco diferente, também desenhada para levar o público a sítios mais insuspeitos da ilha. A organização revela no próprio dia a localização de um concerto secreto que funciona em regime first come, first served. Quanto aos concertos “citadinos”, muita curiosidade para ouvir a música ambiente eletrónica da francesa-sediada-em-Barcelona Colleen e, para contrastar, o punk intransigente dos portugueses Hetta.
Quinta-feira deixamos o lado sul da ilha e rumamos a norte, ao Mercado Municipal da Ribeira Grande para ouvir o rock de La Jungle, e ao Porto de Pescas de Rabo de Peixe para aquele que promete ser um dos mais interessantes momentos do festival, o concerto de Sam the Kid com a Escola de Música de Rabo de Peixe. Já em Ponta Delgada, os brasileiros DEAFKIDS prometem fazer suar que os for ver às Portas do Mar com o seu hardrock tropical.
Já bem imersos no ambiente vulcânico do arquipélago, será o punk feminista das inglesas Lambrini Girls que nos fará acordar no quarto dia do festival, sexta-feira. Destaque também para o rock da margem dos barcelenses Glockenwise, que levarão o seu já clássico álbum, Gótico Português, às ilhas, e para a eletrónica de Marie Davidson. Para a despedida, no sábado teremos mais punk feminino, desta vez com as espanholas Prision Affair e as Deli Girls. Na música portuguesa, P.S. Lucas, o mais recente projeto a solo de Pedro Lucas (de MEDEIROS/LUCAS) , no Teatro Micaelense será, com certeza, especial.
Serão cinco dias de comunhão artística, entre públicos, artistas e a ilha de São Miguel. Esperam-nos passeios, convívios, trocas de ideias e, sobretudo, muita música nova. O mote é alargar horizontes no meio do atlântico. Com sorte temos tempo para provar o cozido das furnas.