Desafiámos os nossos escribas a fazer a difícil escolha de selecionar um álbum, uma banda/artista, uma música, um concerto e um artigo escrito no altamont que os tenha marcado, nestes últimos 20 anos. Poderão vê-las no decorrer das próximas semanas, aqui e na nossa página de instagram.
Em 20 anos cabem muitas histórias e identidades. Quem fui e em quem me tornei. Se durante a primeira metade da minha vida pouco me debrucei sobre os meus gostos e a minha identidade, a partir de 2005, eu encontrei, através da música, uma forma de desabrochar.
Um álbum: BaianaSystem – O Futuro Não Demora (2019)
É um álbum que carrega uma energia imensa e cuja maravilhosa vivacidade da identidade brasileira se desdobra por todas as faixas. Uma intensidade de sonoridades a que volto muitas vezes, porque tenho a certeza de que me vai transformar e contaminar assim que o puser a tocar.
Um artista: Bill Callahan
O Bill Callahan entrou na minha vida com Dream River, lançado em 2013, numa altura em que, por circunstâncias da vida, estava numa espécie de hiato forçado na minha relação com a música. E, de alguma forma, foi ele que me resgatou e me devolveu essa sensibilidade que eu achava estar perdida. É o artista a que continuo a regressar, sempre que preciso de voltar a mim.
Uma canção: “The Greatest” – Cat Power
Uma música cuja beleza me acompanhou em diferentes momentos de melancolia e com uma complexidade emocional que resiste a todas as barreiras do tempo.
Concerto: Walter Benjamin // Lux (2014)
O primeiro concerto do Luís Nunes de que tenho memória foi em 2008, na extinta Livraria Trama, com o seu primeiro projecto Jesus and the Misenderstood. O Luís Nunes, o Pedro Girão, o Manel Dordio e o Miguel Pereira deviam ter uns vinte e cinco anos na altura. Desde então, tantos outros se seguiram. Fui muito feliz a acompanhar o crescimento do Luís até Walter Benjamin, aquele que seria o seu último (até à data) projecto em inglês. Neste concerto de 2014, assistimos ao seu fôlego final, um funeral feito a várias vozes amigas, antes de se tornar no incontornável Benjamim que hoje todos conhecemos.
Um artigo: Iowa Dream – Arthur Russell
Até ao lançamento deste álbum póstumo, Arthur Russell era um nome completamente anónimo para mim. Foi a descoberta de um músico prolífico, que se revelava numa linguagem bastante única e vanguardista. Mas o que me toca mais é a doçura que descobrimos por entre aquela vegetação de acordes do seu violoncelo, das guitarras e dos arranjos electrónicos pelos quais se tornaria conhecido.