Desafiámos os nossos escribas a fazer a difícil escolha de selecionar um álbum, uma banda/artista, uma música, um concerto e um artigo escrito no altamont que os tenha marcado, nestes últimos 20 anos. Poderão vê-las no decorrer das próximas semanas, aqui e na nossa página de instagram.
Uma banda / artista: Animal Collective
Não podia escolher outra banda. Tudo o que sei sobre amor ou parentalidade (mesmo não tendo filhos), aprendi com os Animal Collective. As estruturas irregulares das canções, que funcionam mais como curtas metragens auditivas, e as letras que, no caso de Avey Tare, me fazem transcender no seu labirinto de símbolos ou evocações da juventude ou, no caso de Panda Bear, me dão pistas relativamente ao que devo fazer para viver de forma mais autêntica. Se a música é uma religião, os Animal Collective são os meus messias.
Um álbum: Tame Impala – Lonerism (2012)
Em suma, o disco que me ajudou a sobreviver ao secundário. Kevin Parker criou a banda sonora para miúdos psicadélicos desajustados em 2012, com um disco expansivo que piscava um olho à pop mainstream sem abandonar as melodias lisérgicas que caracterizam aqueles primeiros e já distantes anos iniciais dos Tame Impala. Ser um falhado nunca foi tão fixe.
Uma canção: “Zombie Girl” – Adrianne Lenker
Ainda na categoria de música como terapia, escolho a “Zombie Girl” do fantástico Songs & Instrumentals. Adrianne Lenker sempre conseguiu a proeza de fazer a mais bonita poesia a partir da mais crua realidade. A imagética de “Zombie Girl” é detalhada ao ponto de tornar palpáveis a saudade e a depressão retratadas na música. Mas é também uma canção bonita, bem escrita, um lembrete da nossa capacidade de sublimação. Talvez um dia eu consiga também fazer arte a partir da minha dor.
Um artigo: Neil Young – On The Beach
Não sei bem porquê. Acho só que este texto me saiu bem. Tinha descoberto este disco há relativamente pouco tempo e tinha muita vontade de escrever um texto que lhe fizesse justiça. Não sei se o fiz, mas continuo orgulhoso dele.
Um concerto: Swans – NOS Primavera Sound 2017
A memória mais vívida que tenho deste concerto é o facto de o meu nariz ter vibrado durante a sua duração, tal era o volume que emanava do palco. Michael Gira nunca deu um concerto que não fosse também um ritual catártico de destruição e reencarnação. A reunião dos Swans caracterizou-se por concertos fisicamente extenuantes tanto para os músicos como para o público, com canções de meia hora, muitas delas girando à volta de apenas um acorde que pode soar como um sussurro ou como um trovão. Há concertos que salvam e transformam e este foi, sem dúvida, um deles.