Desafiámos os nossos escribas a fazer a difícil escolha de selecionar um álbum, uma banda/artista, uma música, um concerto e um artigo escrito no altamont que os tenha marcado, nestes últimos 20 anos. Poderão vê-las no decorrer das próximas semanas, aqui e na nossa página de instagram.
Um álbum: In Rainbows – Radiohead
Em outubro de 2007, quando este disco saiu, este vosso ilustre escriba tinha 14 anos. Tinha começado a tocar guitarra, a estudar trigonometria, a dar os primeiros beijos – e a sofrer por eles. Lembro-me de ligar a MTV Portugal antes de ir para a escola e, de torrada e café com leite na mão, ficar induzido num estado de autocomiseração pela “Jigsaw Falling Into Place”, o single do disco. Numa altura de educação sentimental e musical, em que estava a descobrir o rock, o velho e o novo, In Rainbows mudou a minha vida – e continuou presente até hoje. E fica aqui uma declaração escrita de “Weird Fishes/Arpeggi” para o meu requiem.
Uma canção: “Hereditário” – Sam The Kid
O que une Sam The Kid, Linda Martini e Manuel Fúria? A minha prateleira de CD durante a faculdade. E se a música cantada em português floresceu nas últimas décadas, muito é por culpa deles. Quando ouvi Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco, Magnífico Material Inútil e Os Velhos, quis imitá-los de guitarra na mão. E quando ouvi Pratica(mente), com “Poetas de Karaoke” à cabeça, tornei-me quase militante, guerrilheiro do idioma – e o seu expoente é “Hereditário”, um rap intenso (com um sample de uma discussão com o avô de Sam) sobre a prisão genética, “tal pai tal filho, tal pai tal falha”.
Um artigo: Asterisco Cardinal Bomba Caveira || Musicbox
Na manhã de 3 de julho de 2014, acordava da minha terceira relação sexual de sempre – mas o que me entusiasmava era outra coisa. Peguei no telemóvel, escrevi http://www.altamont.pt e espreitei se já tinham publicado o meu artigo, o meu primeiro de sempre. Não estava. Fiz refresh várias vezes, ao longo de tantos outros minutos, até o vislumbrar. Era uma reportagem sobre um concerto no Musicbox de Asterisco Cardinal Bomba Caveira, uma espécie de sacro indie, os Vampire Weekend jesuítas, um objeto de estudo que contrastava com a situação profana em que andava metido. Foi o início de uma feliz carreira como jornalista e autor.
Um concerto: Fleet Foxes – Optimus Alive 2011
Consigo contar a quantidade de vezes em que soltei uma lágrima num concerto, esta foi a primeira. Durante a digressão de Helplessness Blues, o magnum opus da banda, os Fleet Foxes subiram ao palco secundário do então Optimus Alive – e por feliz coincidência, sem os conhecer, lá estava eu naquela tenda. Timing certo, sítio certo. Ao som das harmonias mágicas de Robin Pecknold e do baterista Joshua Tillman (sim, é o Father John Misty), vivi um dos momentos mais bonitos até hoje. Desde então, esta frota de raposas tem-me acompanhado em momentos determinantes da minha vida.
Uma banda / artista: Arctic Monkeys
Conseguia preencher todas as anteriores alíneas deste exercício com esta banda. Álbum? Qualquer um dos cinco primeiros. Canção? Alguma dos dois primeiros. Artigo? A minha reportagem em 2022 do Meo Kalorama em que os sagrei de “futuros clássicos”. E o concerto? O mítico concerto no Coliseu dos Recreios em 2007 em que “When The Sun Goes Down” abriu um mosh pit maior do que Machine Head. Arctic Monkeys é uma das bandas mais marcantes das últimas duas décadas, inspirando várias gerações indie. Eu peguei numa guitarra para ser Alex Turner. Até imprimi uma foto dele, um print screen do videoclipe de “Teddy Picker”, para replicar o penteado no barbeiro. Arctic Monkeys não são futuros clássicos – já lá chegaram.