Aceitemos o convite.
Fechemos os olhos e ouçamos a música de Moondog como se dum passeio de mãos dadas com a alegria e a tristeza, as irmãs inseparáveis, se tratasse.
Nesta canção, Moondog expõe-nos a bipolaridade do mundo. A nossa própria bipolaridade.
Abre-se então a porta por onde somos convidados a entrar neste maravilhoso mundo e damos início ao passeio pelas ruas sinuosas da nossa paradoxalidade. “I’m this I’m that” desfia-nos o novelo das características do ser humano, em pé de igualdade, sem juízos: somos tudo e o seu oposto. Alegria e tristeza.
Detenhamo-nos então um pouco aqui no que é o centro da nossa existência, o coração, que é representado pela batida do piano que compõe a melodia da canção. Bate exactamente como o coração, ora num registo grave e pesado, ora mais agudo e leve, ora a galope em atropelos descompassados, ora a trote mas sempre, enquanto bate, em ritmada harmonia e cheio de esperança.
Passou no dia 26 de Maio o centenário sobre o nascimento de Moondog, personagem enigmática, compositor, músico, praticamente autodidacta, inventor de instrumentos de percussão como a trimba e o dente de dragão, poeta sem-abrigo ou, melhor dizendo, cuja casa era a cidade de Nova Iorque. Permanecia em frente ao Carnegie Hall, dando a conhecer a sua música, o que proporcionou encontros com outros músicos e compositores, como Leonard Bernstein, Charlie Parker ou posteriormente Philip Glass, ou os poetas da Beat Generation, que não ficariam indiferentes ao génio do invulgar homem, invisual, imponente, sábio, com o poder de captar tudo à sua volta e com uma limpeza sonora e lírica, em que nada está a mais ou a menos, compor centenas de temas cheios de melancolia, humor e esperança, a que facilmente nos abraçamos e vamos por aí num agradável passeio pela harmonia de onde não queremos regressar.
O tema “I’m this, I’m that” surge no álbum H’art Songs de 1979, composto por canções, minimalistas, onde é refreada a grandiosidade orquestral de composições de álbuns anteriores.
bem escolhido e bem escrito!