A época dos festivais está em pleno. Precisamente uma semana depois do NOS Alive – de 17 a 20 de julho – arranca mais uma edição do Super Bock Super Rock (SBSR) e esta é especial. São os 25 anos…
Pois é, já lá vão 25 anos desde a primeira edição em 1995 na Gare Marítima de Alcântara. E para celebrar a ocasião, a Música no Coração decidiu regressar ao Meco, apesar das muitas críticas que recebeu por falta de condições quando o festival ali decorreu entre 2010 e 2014 (entre 2015 e 2018 mudou-se para o Parque das Nações).
Este ano prometem melhorias, como ter mais relva e menos pó, mais transportes para chegar ao recinto e melhor gestão do trânsito. A ver vamos. Seja como for, e apesar de nos tempos que correm a música ser cada vez mais secundária quando se vai um festival, no Altamont acreditamos que a música é mesmo o mais importante e portanto, aqui fica a nossa antecipação (e espécie de selecção) do que poderão ver e ouvir nos quatro palcos do Meco.
Dia 17 de Julho, quarta-feira – É o arranque mas não oficial, ou seja, é só para quem tem bilhete de três dias, e faz-se em tons dançáveis, em português e num só palco. Começa às 22h00 com Oma Nata, segue-se Meera, Da Chick, Moullinex, Xinobi e DJ Vibe e termina em grande, a partir das 3h00, com um DJ set a três: Moullinex, Xinobi e DJ Vibe.
Dia 18 de julho, quinta-feira – É então o arranque oficial, o primeiro dos três dias do festival, e o que já está esgotado. É isso mesmo. Aliás, este ano e até agora, este o único dia dos grandes festivais de verão que esgotou antes. Mas há várias razões para isso e a presença de Lana Del Rey é uma delas. É a cabeça de cartaz deste dia (toca às 00h15 no palco principal) e um dos nomes mais sonantes de todo o festival. É apenas a segunda vez que vem a Portugal – a primeira foi precisamente no Super Rock, em 2012 – e desde então a cantora norte-americana já fez muito. Fez tanto que, há sete anos, tocou de dia – ainda que para uma plateia muito bem composta – e agora já tem honras de encerrar a noite. Traz os hits antigos e ainda uma série de canções novas que hão-de figurar num aguardado novo álbum que ainda ninguém sabe quando é que é editado.

Mas neste dia há mais bandas a destacar. No palco Super Bock, o principal e onde também tocará Lana Del Rey, tocam ainda os britânicos The 1975 (22h30) e antes os Jungle (21h00), que serão certamente um êxito garantido graças à sua eletropop dançável e refrões orelhudos. As honras de abertura deste palco são, contudo, de Cat Power, na nossa modesta opinião, um dos melhores nomes deste dia e de todo o festival. A última vez que tocou em Portugal foi também no Super Rock, mas não correu lá muito bem. Foi no palco secundário, mas houve problemas técnicos e a cantora norte-americana acabou por tocar menos tempo do que o que estava previsto. Foi intenso e bom como de costume, mas apressado, e não se apressa um concerto de Cat Power. A moça precisa de tempo para se sentir à vontade e de tempo para interagir. Começa às 19h15 e é mesmo para não perder. É cedo, pois é, mas vale a pena o esforço, até porque ela tem um belíssimo álbum novo a acrescentar aos anteriores, alguns deles excepcionais. Ainda por cima, uma das canções desse disco – “Woman” – é cantada com Lana Del Rey. Será que vamos ter direito a dueto e a momento youtube?

Neste dia os outros três palcos já estarão a funcionar em pleno e, assim, no palco EDP o nosso destaque vai, seguramente e sem qualquer hesitação, para o neozelandês Marlon Williams. Aqui demos-lhe 9 em 10 pelo seu álbum mais recente, Make Way for Love de 2018, e merece-o bem. Toca às 17h30 e se calhar até é uma boa hora para ouvir o seu indie folk ou country pop ou… chamem-lhe o que quiserem… são belíssimas canções tocadas à guitarra e ao piano, com a ajuda de instrumentos de cordas ou sintetizadores. Logo a seguir, às 18h45, é a vez dos portugueses Glockenwise. Começaram em Barcelos a tocar um indie rock em inglês, mas o ano passado, ao quarto álbum, decidiram passar a português e não correu nada mal, pelo contrário. Às 20h00 e as 21h45 este palco mantém-se em português, mas faz uma viragem à electrónica de inspiração cabo-verdiana de Dino D’Santiago e depois à electrónica pura e simples de Branko. Também tem um tema com Dino D’Santiago. Mais um momento youtube? A encerrar este palco estão os Metronomy que, por mais vezes que atuem em Portugal (esta vai ser a sétima), são sempre uma aposta garantida. E a começar às 23h30 ainda dá para ver um bocadinho e depois ir ver Lana Del Rey.
Faltam ainda os palcos LG by Rádio SBSR e Somersby. No palco LG o destaque vai para Madrepaz, às 20h15. Antes disso há Sallim e Grandfather’s House que valem uma espreitadela. E no Somersby, que começa e acaba mais tarde, o destaque é para o já inconfundível Conan Osíris. Toca às 22h30 e parece um pouco escondido neste palco depois de todo o sucesso e hype à sua volta (o álbum foi considerado, por inúmeras publicações, dos melhores a nível nacional em 2018). Não sei se a ideia é passar despercebido, mas creio que terá uma boa plateia, mesmo com a concorrência dos The 1975, que começam à mesma hora. Neste palco tocam ainda Roosevelt (01h15) e Sebastián (02h30). Para quem ainda tiver asas.
19 de julho, sexta-feira – Segundo dia de festival e comecemos então pelo palco principal (o Super Bock) que arranca às 19h15 com os Shame. Já aqui falámos sobre eles e falámos muito bem (8 em 10 ao álbum de estreia Songs of Praise editado em 2018). Só para recordar, são britânicos e fazem um pós-punk inteligente e algo reivindicativo. Os nomes que se seguem já nada tem que ver com o rock mais puro, das guitarras e bateria. Não fosse isto um festival. Às 21h00, a artista francesa Christine and the Queens apresenta o seu eletro-pop e logo depois, às 23h00, é a vez dos franceses Phoenix animarem o Meco com o seu eletro-indie-disco-pop (sim, isto tudo e mais qualquer coisa, mas bem feito, sem ser confuso). São claramente um dos cabeças de cartaz do festival. Este palco encerra com Kaytranada, uma das figuras do hip hop atual. Começa à 01h15.

Vejamos agora o palco secundário (EDP) que, em termos de qualidade das bandas não tem nada de secundário. Arranca às 17h15 com o hip hop dos portuenses Conjunto Corona, e logo às 18h30 tem um momento imperdível. Calexico e Iron & Wine, juntos, a tocar temas dos seus dois únicos álbuns em conjunto – um de 2005 e outro de 2019 – pela primeira vez em 14 anos. Será um daqueles momentos em que três músicos muito competentes apresentam uma série de boas canções que misturam muitos estilos de uma forma tão escorreita que parece um estilo novo. Nada mais a dizer. A noite segue com os portugueses Capitão Fausto (20h30) que já dispensam apresentações e depois chega Charlotte Gainsbourg (22h00). O nome não engana. É filha de Jane Birkin e Serge Gainsbourg – uma herança pesada – e não lhe encontro um rótulo musical, o que até pode ser bom. Há uma certa inspiração da canção francesa, adaptada aos tempos modernos, com alguns laivos de eletrónica, mas também a podemos encaixar no indie rock ou numa espécie de pop alternativo. Fica ao vosso critério. Este palco termina com FKJ, também ele francês e também sem um rótulo definido, mas neste caso o mix musical envolve o jazz, o blues, a soul, a pop… Começa às 00h00.
Tal como no dia anterior, a festa continua a fazer-se em mais dois palcos. No palco LG há três bandas a destacar, todas portuguesas e a movimentarem-se dentro dos vários tipos de rock que por aí existem. São elas os Galgo (16h45), os Fugly (18h00) e os The Twist Connection (20h15). Os Galgo e os Fugly estão a começar e os The Twist Connection de certa forma também, mas são uma espécie de super grupo: São formados por Carlos “Kaló” Mendes, (Tédio Boys, WrayGunn, bunnyranch, Parkinsons), Samuel Silva (Jack Shits), Sérgio Cardoso (É Mas Foice, WrayGunn) e Raquel Ralha (BelleChase Hotel, WrayGunn). Acho que não é preciso dizer mais nada.

Por fim, no palco Somersby, há nacionalidades para todos os gostos mas uma sonoridade constante: eletrónica, também nas suas diversas formas e influências, incluindo jazz e hip hop. Assim temos o francês Roméo Elvis (23h00), os britânicos Ezra Collective (01h00) e o norte-americano Dam-Funk (02H30). E depois, bem, depois é dormir.
20 de julho, sábado – E chegámos ao último dia e ele tem um denominador comum: música para abanar o corpo, seja em passo mais acelerado ou em passo mais lento, seja sozinho ou agarradinho a alguém. É como quiserem, desde que dancem. E para isso temos, no palco principal, o hip hop do português Profjam (19h35) e logo depois (21h30) o R&B carregado de inspiração soul e funk da multi artista norte-americana Janelle Monáe (a rapariga canta, dança e é já uma destacada actriz). É o primeiro grande nome deste dia e merece o destaque. Depois de uma breve pausa – às 23h30 – volta o hip hop, ou melhor o trap, do também norte-americano Migos. É um dos artistas em ascensão na cena hip hop atual de tal forma que já se dá com grandes nomes como Drake ou o actor e músico Jamie Foxx, que figuram ambos no vídeo do single “Walk It Talk It”. E para encerrar este palco, sempre a mexer, um salto do hip hop para o house com um DJ set dos já aclamados Disclosure. É à 1h15.

Em alternativa a tudo isto está o palco EDP e, neste dia, também se dança por aqui. Arranca com os britânicos The Blinders, que fazem um pop rock mais dançável, e prossegue com Rubel, um destaque da nova música popular brasileira que, com muito poucas audições me pareceu também um dos destaques deste dia. E dá para apreciar e dançar de mansinho. Logo a seguir os ânimos aquecem com os multifacetados Superorganism, para os quais não lhes encontro um rótulo, porque são uma amálgama de estilos musicais e culturais, principalmente dos mais berrantes que há. Vale a pena uma espreitadela, mas curta. Há mais para ver no festival. Neste palco atua ainda o artista jamaicano Masego, que acalma um pouco os ânimos com o seu “TrapHouseJazz” (é como o rotulam na descrição dada no site do festival), e depois chegam os Gorgon City para acelerar de novo as hostes com uma mistura de house com pop cantado.
Por fim, e também em alternativa, há ainda os palcos LG by SBSR e Somersby. No primeiro, sempre em português, abre o dia (literalmente, porque começa às 17h15) o fado eletrónico (e outros estilos à mistura) de Pedro Mafama. Seguem-se os TNT (18h45) e depois, para finalizar, às 22h45, o hip hop de Estraca. Já no palco Somersby – o que começa mais tarde e, por isso, acaba mais tarde – a dança faz-se com o hip hop inteligente e original do português Mike El Nite (00h30) e depois com os BaianaSystem cujo conceito – como o nome indica – se assemelha ao dos nossos Buraka Som Sistema, mas com sonoridades do Brasil e com uma estética mais contestária e gráfica, alusiva ao que se tem passado nos últimos 10 anos naquele país. Um nome que desperta alguma curiosidade e merecerá uma visita a este palco. Encerra, a partir das 02h30, com a eletrónica pura dos berlinenses Booka Shade a quem cabe também as honras de encerrar os 25 anos do Super Bock Super Rock.
E já está. Termina aqui a nossa antecipação do festival. Agora é ler e escolher o que ver. Depois convém passar por aqui para ler as reportagens e as considerações do que por lá se vai passar e começar a pensar em Paredes de Coura.